07 - Como melhorar a Pregação Sagrada
Depois de ter analisado os
diferentes tipos de ouvintes que temos, dediquemos umas linhas para a figura do
pregador.
A figura do pregador
Nenhum pregador pode pregar-se a si
mesmo, mas tem que dar testemunho da Palavra de Deus, que se fez homem e
habitou entre nós. A dupla tarefa do sacerdote de acordo com Orígenes será: “aprender
de Deus lendo as Escrituras divinas, meditando-as frequentemente e ensinando-a
ao povo. Mas, que ensine o que aprendeu de Deus, não do seu próprio coração ou
num sentido humano, mas o que ensina o Espírito” (In Num hom., 16, 9).
O pregador é servidor da Palavra
para que se realize o grande encontro não só entre ele mesmo e os ouvintes,
mas, principalmente, entre Deus e os ouvintes através dele. A pregação tem que
ser um meio para que uma comunidade, e cada um dos seus membros em especial,
seja “ouvinte da palavra”. Tem que falar disso envolvido
pessoalmente e não distante, indicando um caminho e não somente informando. Não
basta proporcionar frases corretas teologicamente. Entre uma teologia bem
aprendida e uma profunda convicção pessoal há uma grande diferença.
Características do pregador
O pregador da mensagem cristã é um
enviado. Recebeu a incumbência desse
ministério, como aconteceu com os profetas; não é uma distinção mas uma
responsabilidade, da qual não podemos escapar, como alguns profetas gostariam[1].
Por isso tem que ser um administrador fiel (cf 1 Cor 4, 2), porque não anuncia
a sua própria mensagem, mas a do outro. Neste caso, a de Deus e da Igreja. A
missão permanece em nós apesar da nossa debilidade.
O pregador da mensagem cristã é uma
testemunha. Exige-se do pregador não
somente a fidelidade externa ao conteúdo da mensagem, mas também a entrega
pessoal à Palavra. Não pode haver uma contradição entre a sua palavra e a sua
vida. O pregador tem que ser sempre testemunha da sua fé pessoal, se não quer
que a sua palavra seja ao final uma palavra vazia, não digna de crédito. A
primeira testemunha que se requer do pregador é a da sua lealdade absoluta da
sua humildade diante de Deus, da sua renúncia a si mesmo para ser porta-voz de
uma verdade que não lhe pertence. A pregação é a interpretação e a transmissão
do ouvido. Por isso, a testemunha dará aos seus ouvintes parte do que para ela
significa a Mensagem e da sua experiência pessoal com esta. O pregador
transmite a mensagem cristã não somente com as suas palavras, mas
principalmente com as suas obras[2].
O pregador da mensagem cristã é um
tradutor. A mensagem de Deus proferida num
outro tempo, em outras circunstâncias sociais e culturais em uma determinada
situação histórica, e a alguns ouvintes historicamente determinados… essa
mensagem o pregador tem que traduzir para o mundo de hoje. Tem que traduzí-la
com toda exatidão, porque em toda tradução existe o perigo da traição
(“traduttore…traditore”). Não pode ajustar o conteúdo da fé, mas a forma de
transmití-la. João Paulo II nos convidava a novos métodos, nova expressão, nova
força, novo entusiasmo… mas não novos conteúdos.
O pregador da mensagem cristã é um
comentador. O pregador tem que comentar,
explicar, aplicar às necessidade correspondentes, à situação histórica do
mundo, aos fieis concretos que tem pela frente. O pregador é um humilde
servidor da palavra revelada. O melhor que pode fazer é apresentar aos fieis a
palavra revelada da Escritura de um modo que a possam entender. Não usá-la como
apoio e trampolim para os próprios pensamentos e ideologias, ou até mesmo como
ornamento da eloqüência do pregador.
[1]
Por exemplo Jonas (Jon 1, 2), ou Jeremias (Jer 20, 8), ou Elias (1 Re 19,
4).
[2]
São Gregório Magno dirá: “Que qualquer pregador seja mais escutado nas obras do
que nas palavras; e vivendo ele deixe as pegadas para serem seguidas; ou seja
que, mais obrando do que falando, mostre por onde se deve caminhar” (Regula
Pastoralis III, 40).
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