Em Destaque

Solenidade de Pentecostes, um convite a sermos dócil ao Espírito

P ercorremos exatos cinquenta dias do tempo Pascal e com a solene celebração de Pentecostes [1] chegamos ao fim deste tempo e ret...

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Celebrar o Mistério Eucaristíco – MISSA / Ritos Iniciais

Por: Diac. Carlos Magno Ericeira

Muito embora o assunto que iremos abordar já seja de conhecimento da maioria, é conveniente retratá-lo para que se possa chegar aquela tão sonhada ação frutífera almejada pela liturgia, pois a “Liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de Deus.” (SC 7).
O Rito romano é o rito mais difundido em todo o mundo católico, e geralmente mais conhecido, embora, existam vários outros ritos reconhecidos. A Missa (como costumamos intitular a celebração Eucarística) tem dois grandes momentos, a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, precedidas por Ritos iniciais e seguidas pelos Ritos Finais; é regido pelo missal romano promulgado em 1970 e revisto em 1975 e 2002, fruto da reforma litúrgica do Concílio Ecumênico Vaticano II este livro na parte denominada Introdução Geral do Missal Romano (IGMR) traz as explicações e indicações (regras) para cada um dos momentos da celebração.
banner de divulgação da loja virtual do cmliturgo
Interligadas entre si, com inicio e fim as partes acima sublinhadas formam a espinha dorsal deste momento celebrativo da comunidade cristã. Neste artigo de forma breve vamos voltar nossa atenção para os ritos iniciais, que tem como objetivo principal transformar indivíduos em povo celebrante, formar a assembleia orante, fazer com que as pessoas entrem no clima de celebração, corpo de Cristo animado pelo Espírito Santo, conduzindo a Assembleia Cristã a uma comunhão para ouvir e meditar a Palavra de Deus e celebrar e louvar o Memorial da nossa Salvação. Divide-se em:
 Monição
 Procissão e Canto de Entrada
 Beijo do altar
 Incensação do altar
 Saudação e Acolhida
 Ato Penitencial - Senhor tende piedade (Kyrie Eleison)
 Hino de Louvor (somente aos domingos, festas e solenidades, exceto na Quaresma e no Advento)
 Oração do dia (Oração coleta)
Formada a assembleia que vai participar da missa, o presidente da celebração (um presbítero ou um bispo) dirige-se para o presbitério com os outros ministros e acólitos. Saúda o altar com a vénia, inicia com o Sinal da Cruz, segue-se o ato penitencial (na forma de confissão ou tríplice invocação a Cristo, Kyrie), em que todos os participantes pedem a Deus o perdão por seus pecados, para melhor celebrarem a Eucaristia.
Nos Domingos (exceto no Advento e na Quaresma) ,solenidades e festas, reza-se ou canta-se o Hino de Louvor (Glória a Deus nas Alturas). Por fim, o presidente convida todos à oração dizendo Oremos e diz a oração coleta pela qual apresenta a Deus todas as intenções do povo celebrante, e concluindo assim os ritos Iniciais.
No próximo artigo iremos comentar sobre a liturgia da Palavra.
(artigo publicado no Jornal do Maranhão Ano XLVII - Nº82 - agosto 2016 / arquidiocese de São Luis (MA)

terça-feira, 26 de abril de 2016

Informativo a palavra viva - fichas de estudo

O Jornal a Palavra Viva agora é Informativo e traz para os seus leitores as fichas formativas que inicialmente irá trabalhar sobre a material Liturgia.
Aproveite, colecione e estude!

  Nesta primeira parte do projeto iremos editar 100 temas sobre a sagrada liturgia. Já editamos 14 temas confira a relação abaixo e comece já a ler, colecionar e estudar.
Ficha 01 - Liturgia o que é mesmo?
Ficha 02 - Sacrosanctum Concilium (estudo 1) 
Ficha 03 - Sacrosanctum Concilium (estudo 2)
Ficha 04 -Sacrosanctum Concilium (estudo 3)
Ficha 05 - Sacrosanctum Concilium (estudo 4)
Ficha 06 -Sacrosanctum Concilium (estudo 5)
Ficha 07- Celebração do Mistério Pascal ao longo do Ano
Ficha 08 - Funções de ministérios na missa
Ficha 09 - Ano jubilar da Misericórdia (estudo 1)
Ficha 10 - Ano jubilar da Misericórdia (estudo 2)
Ficha 11 - Ano jubilar da Misericórdia (estudo 3) 
Ficha 12 - Liturgia e comunicação
Ficha 13 - Canto litúrgico
Ficha 14 - Arte litúrgica


  

domingo, 17 de abril de 2016

Solenidade de Pentecostes, um convite a sermos dócil ao Espírito



Percorremos exatos cinquenta dias do tempo Pascal e com a solene celebração de Pentecostes[1] chegamos ao fim deste tempo e retornamos ao Tempo comum, ou seja, esta solenidade marca simbolicamente o inicio da Igreja missionária que guiada pelo Espírito Santo irá até os confins da terra levando a Palavra de Deus e anunciando o Reino do Pai.
Pelo grau de sua importância esta celebração deve ser precedida por uma vigília de prece, acolhendo o dia em que o mistério pascal atinge sua plenitude no dom do Espírito derramado sobre a Igreja nascente. A sua origem está no Antigo Testamento, uma celebração da colheita (Êxodo 23, 14), dia de alegria e ação de graças, portanto, uma festa agrária, nesta, o povo oferecia a Deus os primeiros frutos que a terra tinha produzido, mais tarde, tornou-se também a festa da renovação da Aliança do Sinai (Ex 19, 1-16).  No Novo Testamento, o Pentecostes está relatado no livro dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. Como era costume, os discípulos, juntamente com Maria, mãe de Jesus, estavam reunidos para a celebração do Pentecostes judaico, de acordo com o relato, durante a celebração, ouviu-se um ruído, “como se soprasse um vento impetuoso”. “Línguas de fogo” pousaram sobre os apóstolos e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas.
  Por esta força (luz) a comunidade é revestida no Espírito de Deus para ser testemunha do ressuscitado, que a envia para anunciar a Boa notícia a todos os povos, línguas e nações, com esta solenidade somos convidados a acolher o dom total do Espírito para sermos restaurados para o exercício da vocação, para a capacidade do encontro, para o exercício do amor, da doação, da solidariedade e da misericórdia.  O papa Francisco em uma homilia recente[2] comentou que nos tempos passados a Igreja  vivia o drama da resistência ao Espírito “corações fechados, duros, tolos que resistem ao Espírito” .... e que supostamente justificavam essa resistência a fidelidade a letra da lei, hoje (continua o papa) a  Igreja propõe o oposto, “a Igreja ensina não resistir ao Espírito, mas ser dócil a Ele deixando-o agir e ir adiante para construir a Igreja; essa é a atitude do cristão”.
O Papa também propõe que supliquemos a ação da terceira pessoa da trindade com  a oração que o sacerdote Eli sugere ao jovem Samuel. “A oração para pedir esta docilidade ao Espírito Santo e com esta docilidade levar avante a Igreja, ser o instrumento do Espírito para que a Igreja possa prosseguir. ‘Fala, Senhor, que o teu servo escuta[3]. Rezemos assim, várias vezes por dia: quando temos uma dúvida, quando não sabemos ou quando simplesmente quisermos rezar. E com esta oração pedimos a graça da docilidade ao Espírito Santo”.
Celebremos bem esta solenidade e confiemo-nos a ação do Espírito para que Ele opere em nós (e por nós) a maravilhas divinas.

Sugestões para dinamizar a Celebração:

  • ·         Dar destaque ao círio pascal, fonte batismal, mesa da palavra e da eucaristia;
  • ·         Se possível em um local adequado colocar um candelabro de sete velas (Menorah);
  • ·         As pessoas que exercem funções e ministérios na comunidade podem compor a procissão de abertura;
  • ·         Durante a sequencia se for oportuno todos da assembléia podem acender velas no círio e manterem acesas até o final da proclamação do Evangelho;
  • ·         Após a homilia é bom fazer a bênção da água, em seguida a renovação das promessas batismais e por ultimo a asperssão.
  • ·         No rito final dar destaque ao envio para a missão, utilizando a bênção solene para pentecostes (IGMR pag.
  • ·         OBS: O círio Pascal ao final da celebração deve ser apagado e guardado indicando o final do tempo pascal. 


Por: Diac. Carlos Magno Ericeira



[1] do grego, pentekosté, é o quinquagésimo dia após a Páscoa.
[2] Homilia na casa de Santa Marta em 14/04/16
[3] I Sm 3,9

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades - II

Vamos continuar nossa conversa, em forma de entrevista, dando a palavra à Penha Carpanedo, que fez parte da equipe que elaborou o Oficio Divino das Comunidades (ODC), e apresentou dissertação de mestrado sobre a sua inculturação. Ela partilha conosco o resultado do seu encontro, com grupos e comunidades, celebrando e aprofundando a teologia e a espiritualidade do Oficio Divino das Comunidades.
RL: Desde o surgimento do Oficio Divino das Comunidades (ODC), até agora, como você sente evoluir a inculturação da Liturgia das Horas no Brasil?
ConversasPenha: O Oficio Divino das Comunidades possibilita uma oração cotidiana conforme a tradição da Igreja, de rezar com salmos e outros cânticos bíblicos, no ritmo das horas e dos tempos do ano litúrgico, com uma linguagem acessível às nossas comunidades. Depois de 20 anos desde a primeira edição, tornou-se uma referência reconhecida nas comunidades eclesiais do nosso país. E de certa forma ele cresceu com a prática das comunidades.
RL: Quais elementos destacaria na proposta ritual do ODC como inculturadas?
Penha: Destaco dois elementos que me parecem fundamentais:
O primeiro é a preocupação de adequar a linguagem dos textos, os ritos e o estilo da celebração ao modelo eclesial (teologia e prática) assumido por nossas comunidades a partir do Concílio Vaticano II e de Medellin. Parte-se do princípio que a inculturação da liturgia não é uma tarefa isolada, mas tem a ver com a inserção da Igreja no mundo, com a sua missão. Como bem formulou o liturgista filipino, Anscar Chupungco, a inculturação “não é apenas problema antropológico, mas também teológico, pois tange tudo o que toca o relacionamento entre Deus e o seu povo”. Esta preocupação perpassa todo o Oficio. Aparece nos hinos, nas orações, nas preces, nas introduções aos salmos etc. Aparece especialmente na Recordação da vida, introduzida para explicitar a relação entre o mistério pascal vivido no dia a dia e a celebração litúrgica.
Outro importante destaque é a inclusão de elementos da piedade popular, realizando concretamente a ‘mútua fecundação’ entre liturgia e religião popular. E não apenas incorporando elementos externos, mas procurando corresponder à piedade e ao “fervor espiritual” do povo; aos “anseios de oração e de vida cristã”, tão característicos da piedade popular.
RL: Poderia dar exemplos de repercussões da piedade popular no ODC?
Penha: As repercussões da piedade popular podem ser percebidas no próprio estilo do oficio. A ritualidade e a singeleza da celebração, com seu tom coloquial, sem muitas palavras explicativas, centrada no mistério pascal de Jesus, com seus salmos, hinos e orações em linguagem acessível, encontra eco na piedade do povo, com sua capacidade contemplativa e sua atitude de confiança em Jesus. Além disso, um exemplo concreto são as aberturas: com seu conteúdo bíblico e estrutura dos benditos populares em formato de repetição, traduzem com muita propriedade o sentido teológico do invitatório.
Respeitando sua forma responsorial, possibilita o diálogo e conduz à oração. A repetição foi bastante valorizada na elaboração dos diversos elementos que compõem o ODC, libertando a oração do papel e dando razão ao aspecto oral da piedade popular. É um dos elementos que mais agrada o povo e realmente convida a entrar na oração. Outro exemplo são os hinos - “cai a tarde o sol se esconde”, “pecador agora é tempo” e outros mais — tomados do repertório popular. Poderíamos ainda falar da dimensão relacional, de aliança, que cria um clima orante, comum à liturgia e à piedade popular.
RL: Em que medida esta ritualidade tão presente na prática celebrativa do ODC responde à exigência de inculturação.
Penha: Sendo o Oficio Divino uma ação litúrgica como as demais celebrações da Igreja, tem dimensão comunitária e sacramental, pois se compreende como ação simbólica que expressa a salvação de Deus (oficio divino), mediante sinais sensíveis, que significam e que realizam o que significam (cf. SC 7). E quando é que um sinal é sensível? Quando atinge a pessoa em sua corporeidade, culturalmente situada. No ODC não há muitas indicações e detalhes a respeito dos gestos, símbolos e ritos. Entretanto, na prática, foi nascendo um estilo de celebração coerente com o jeito de celebrar de nossas comunidades, como resultado da relação entre liturgia e modelo eclesial e da ‘mútua fecundação’ entre liturgia e religiosidade popular.
Nas celebrações do ODC se valoriza a gestualidade, o movimento, o cuidado com o espaço e com os diversos elementos que o compõem, o bom desempenho dos ministérios (presidência, leitores/as, cantores/as, acólitos/as...) A verdade dos sinais tem como exigência, entre outras coisas, a incultaração, para que o povo possa se reconhecer na oração e de fato possa acompanhar as palavras com a mente atenta e participar com consciência, ativa e frutuosamente (cf. SC 11).
RL: A inculturação leva a situar o ODC numa cultura e num tempo, isso não limita a experiência litúrgica?
Penha: O Concílio Vaticano II estabeleceu princípios teológicos e pastorais que estão na base de toda a reforma da Igreja e da Liturgia. Um destes princípios é o da adaptação aos tempos modernos e às culturas de cada povo. Compreendeu que para ser universal precisa ser capaz de adequar-se ao particular, naturalmente sem perder a referência da tradição. O ODC reproduz de maneira simples e inculturada, acessível ao povo de nossas comunidades, os mesmos elementos e estrutura da Liturgia das Horas, a mesma teologia e espiritualidade.
O ganho é imenso: a oração da Igreja se torna popular, e a oração do povo se enriquece com a herança da tradição bíblica e eclesial. Pensemos por exemplo na música. Grande parte das músicas tem sua inspiração nas raízes melódicas da nossa cultura. Muitas foram recolhidas do repertório musical produzido a partir da reforma do Concílio Vaticano II, que representa grande conquista em busca da música ritual em ritmo e estilo brasileiros. O próprio Geraldo Leite, um dos autores das músicas do ODC, escreveu:
“Nossa música é toda uma mistura de melancolia e esperança, de ritmos e saudades, de alegria e de dores, de África e de Brasil”. As composições não estão sujeitas aos modismos, pois são de grande qualidade melódica e textual, permanecendo válidas pela sua autenticidade. Portanto, a inculturação não representa limitação, mas enriquecimento mútuo, pois descobre na cultura local o que existe de mais precioso e valoroso.
RL: Como a experiência inculturada da Liturgia das Horas pode colaborar na vivência espiritual do mistério de Cristo em nossas comunidades?
Penha: Com séculos de separação entre espiritualidade e liturgia é preciso aprender de novo a viver a liturgia como fonte de espiritualidade (cf. SC 14); é preciso aprender a participar, prestando atenção nas palavras ditas ou cantadas, nas palavras que acompanham as ações simbólicas; é preciso aprender de novo a guardar no coração o que recebemos de Deus na assembléia litúrgica para viver existencialmente em nosso cotidiano. Ao mesmo tempo vamos redescobrindo que a liturgia, para além da razão, vai misteriosamente moldando e transformando o coração das pessoas e a vida de comunidade.
Não tenho dúvida de que o ODC caminha nesta direção. Reproduzindo a Liturgia das Horas, valendo-se da linguagem do nosso universo simbólico, o ODC constitui uma experiência vital do mistério pascal, e desta maneira torna-se alimento da oração e da devoção pessoal conforme pedia a Constituição sobre a liturgia (Cf. SC 90) e como recomendou Paulo VI, na Constituição Apostólica Laudis Canticum: que a celebração do Oficio pudesse “adaptar-se, quanto possível, às necessidades de uma oração viva e pessoal” (cf. n. 8).

Fonte: Revista de Liturgia – 217 – Janeiro/Fevereiro.2010

Aguarde a edição da conversa nº III editada pelas páginas da revista de liturgia e divulgada no blog CMLITURGO, conversaremos com a agente de pastoral Sônia Rios, que relata a experiência com o ODC em Belo Horizonte. Na conversa nº I o entrevistado foi o Pe. Márcio Pimentel e você pode conferir o texto completo CLICANDO AQUI

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Conversas sobre o Ofício Divino das Comunidades - I


Nosso primeiro entrevistado é o Pe. Márcio Pimentel, religioso saletino, membro da Rede Celebra, atuando na pastoral litúrgica da Arquidiocese de Belo Horizonte. Responsável pela formação dos seminaristas aspirantes e postulantes de sua congregação, ele relata nesta entrevista a experiência do ODC em sua comunidade religiosa, no período da formação religiosa e presbiteral. Considerando a Liturgia das Horas um elemento essencial da vida religiosa, mostra como concilia o carisma de sua congregação com a espiritualidade litúrgica. O Oficio Divino das Comunidades encontra cada vez mais espaço nas comunidades religiosas, aproximando a antiga tradição da Oração dos Salmos às demandas do tempo presente e da missão dos religiosos na Igreja e no mundo.


Iniciamos, nesta edição, uma série de entrevistas: “Conversas sobre o Oficio Divino das Comunidades “. Em cada número, uma pessoa ligada à elaboração do Oficio ou à Pastoral nos dará um testemunho ou uma reflexão em torno deste assunto. A intenção é trazer à tona a experiência da Liturgia das Horas na forma do Oficio Divino das Comunidades, cuja prática oferece importantes elementos para a teologia e espiritualidade da Liturgia das Horas e para a sua inculturação. 

1. Como se deu a introdução e a opção pela Liturgia das Horas na forma do ODC na etapa em que você atua como formador?
ODCA opção pelo Oficio Divino das Comunidades (ODC) tinha como objetivo eleger um estilo de Liturgia das Horas (LH) que fomentasse nos estudantes o gosto pelo canto dos salmos. Isto possibilitaria a descoberta de sua inigualável riqueza para a espiritualidade cristã e, em especial, para a própria construção do perfil religioso e presbiteral. Mediante a celebração do ODC, eu mesmo pude redescobrir a beleza da Oração cristã e descortinar seu sentido para o meu itinerário vocacional e missionário. Dei-me conta de que a oração dos salmos permitia escapar das armadilhas que nosso ego fabrica em nossas práticas religiosas. Sem perceber, corremos o risco de caminhar rumo a desfiguração de nosso perfil de discípulo, missionário e, sobretudo, humano. Entendemos que o ODC era um caminho que valia a pena compartilhar com aqueles que fazem sua iniciação à vida religiosa e presbiteral saletina no período do aspirantado e postulantado, quando eles cursam a filosofia.
  1. Como o ODC figura no conjunto de celebrações do seminário?
Eu diria que ocupa lugar privilegiado. Costumava referir-me a estes momentos como “significadores” do cotidiano ou, como mais recentemente gosto de dizer, oportunidades para ajustar nossos passos aos ritmos do Evangelho de Jesus. Rezamos o ODC pela manhã, à tarde e à noite: laudes, vésperas e completas. Esta última fazemos segundo a estrutura da versão oficial da LH. As horas maiores seguem a estrutura do ODC, embora utilizemos com freqüência alguns hinos e salmos da versão oficial, pois não vemos oposição entre o ODC e a LH. Temos a oportunidade, portanto de rezar cotidianamente a Oração das Horas segundo o estilo e a forma do ODC. Cada vez fica mais clara a importância e o ganho em optar por ele como eixo da oração cotidiana de nossa comunidade.
  1. Como você vê a recepção do ODC por parte dos formandos?
Certamente há frutos que já colhemos, sobretudo nos quesitos ritualidade e sacra- mentalidade que o ODC recupera. Isto é muito louvável. Ainda reside certo conflito com a mentalidade contemporânea, herdeira da lógica moderna e também pós-moderna. Destaco dois aspectos:
  1. a) a racionalização da oração. Achamos que temos de entender tudo, que deve haver um beneficio mensurável naquilo que fazemos. Praticamente preenchemos, ou tentamos preencher todos os “vazios” para que o Mistério se manifeste e nos recrie. Talvez por isso tenhamos tanta dificuldade com o silêncio... Queremos dominar e submeter aquilo que é maior do que nós. Perdemos na oração a noção de criaturas, O que seria um espaço para a gratuidade, para o deleite da presença de Deus, se torna ocasião para um palavrório sem limites, conscientizações, ideologizações exageradas...
  1. b) a confusão entre objetividade e subjetividade da espiritualidade cristã. Aqui a questão é mais grave: os jovens que chegam às nossas casas, além de, na sua maioria, não terem sido iniciados à fé de modo substancial e consistente, trazem consigo uma espiritualidade movida pela lógica devocional. Nesta prevalece o gosto individual e a fé subjetiva em detrimento da objetividade da fé da Igreja, recebida no batismo, entregue por uma comunidade à qual se adere. Notamos o desconhecimento da bimilenar tradição orante da Igreja e sucumbimos diante da falsa criatividade ou do criativismo exacerbado. A compreensão de liturgia, por exemplo, em ambos os casos não é boa. Ela não é considerada como a nossa resposta ao amor de Deus por nós, no seu trabalho carinhoso em governar e cuidar da humanidade, da história, do cosmos.
  1. Sendo formador de religiosos saletinos, como você avalia as celebrações do ODC no conjunto da formação para a vida religiosa e para o presbiterato?
Urge uma volta à compreensão mais mística da liturgia para que venha à tona a sua importância para a formação religiosa e presbiteral. Algo disso já se processa atualmente, mas temos que caminhar muito. A Liturgia, e aqui enfoco o ODC, é um microcosmo. Ele reflete o mundo e a história que se traça cotidianamente sob outro ângulo, que é a lógica de Deus. Gosto de falar de um “ensaio existencial”. Tudo e todos somos submetidos ao modo do ser de Deus revelado em Jesus. A forma de nos relacionarmos como pessoas humanas e cristãs, a nossa consagração batismal, vinculada e radicalizada num instituto de vida consagrada, e o ministério pastoral que prestamos à Igreja são vividos e antecipados na celebração do trabalho de Deus, a Liturgia. Percebo que falta-nos hoje transparência sacramental e com isso me refiro ao fato de numa celebração, em que “presidimos”, por exemplo, sobrepor-se o sinal, pobre e insuficiente, ao Mistério que este deveria comunicar. Tudo gira em torno do padre. É ele quem aparece, quem é escutado, visto e ovacionado não poucas vezes. Ele é o centro e para ele tudo converge. Como um microcosmo e um ensaio, a celebração sinaliza que algo está errado e fora de lugar: na vida cotidiana, no modo de proceder, na vocação, missão, pastoral, ou mesmo no âmbito celebrativo. Esquecemos de que Deus é Deus. A casa de formação é um lugar privilegiado para redescobrir o lugar do Mistério na condução de nossa vida, sem o quê nos tornarmos ídolos!
  1. O ODC é um caminho mistagógico para a formação?
O ODC é uma porta para o Mistério. Creio nisto, sobretudo porque o único Mistério que celebramos é a Páscoa de Cristo Jesus. O ODC nos possibilita entrar em comunhão profunda com o Espírito de Cristo. Se quisermos estar ligados a ele devemos beber da fonte que ele bebeu, rezar como ele rezou, orar aquilo que ele orou. Sabemos que a base da oração de Jesus são os salmos. Não dá para entrarmos em relação com Jesus sem estarmos imbuídos de seu Espírito.
No fato-fundante do Instituto dos Missionários Saletinos, existe um forte princípio sobre a oração baseado na pergunta da Virgem na sua aparição em Salete, França:
“Fazei bem as suas orações, meus filhos?”, O cuidado com o “fazer bem as orações” aqui se expressa em nosso zelo para com o ODC, que é uma conquista de cada dia. O carisma do Instituto é a reconciliação. Não dá para ser embaixadores da reconciliação, conforme o Apóstolo (2Cor 5,20), se nos esquecemos de nosso mergulho na morte e ressurreição do Senhor.
Não dá para viver e proclamar “a nova criatura” se não estamos suficientemente vinculados ao Novo Adão. Somente cantando sua Palavra, permitindo que ela se torne nossa palavra na meditação de cada versículo sálmico, que ressoem e dialoguem com aquilo que recordamos da vida e a re-signifiquem; somente silenciando para que o nosso vazio seja preenchido pela novidade do Evangelho, é que nossa existência ganhará o tom e a cor do Reinado de Deus. Assim como os salmos no ODC ganham vida e beleza advindas da métrica poética que nos é peculiar, dos ritmos regionais que os embalam, das sutilezas melódicas do modalismo redescoberto em nossas composições, nossa vida é embelezada pela voz do Verbo que através deles ressoa.

domingo, 20 de março de 2016

Curso de liturgia

Formação litúrgica Permanente, caminho para a participação plena.

Idealizado e coordenado pelo Diac. Carlos Ericeira em parceria com o IESMA

Um sonho que a cada dia e passo vai dentro de sua realidade ganhando forma e perfeição, mas, como esta história começou?
Me permitam um breve histórico, não para a vanglória pessoal, mas para percebemos o processo e a ação divina que nos utiliza como instrumentos. Iniciei minha formação litúrgica no Nordestão de Liturgia que neste tempo era realizado em Canindé - CE, foram três anos intensos (2002-04) e modificaram a minha caminhada, despertando em mim um amor e uma sede insaciável pela liturgia, ao retornar para a minha paróquia (São Cristóvão - São Luis/MA) senti a necessidade de partilhar o conhecimento e fui aos poucos organizando e estruturando cursos com diversos temas até o momento em que pensei em uma formação continuada, gradual e permanente (é claro que esta ideia já existia, mas aqui me refiro a minha paróquia onde a carência de iniciação e formação era grande),  Na ação da partilha (assessorias formativas) percebi a obrigação de buscar cada vez mais instrução e sabedoria, assim comecei a participar de formações fora (São Paulo - Rio - Goiânia, etc).
Nos anos de 2005 a 2010 foram inúmeras assessorias desenvolvidas na forania e paróquia São Cristóvão, com essa experiência resolvi apresentar um projeto de formação na área de liturgia para público da Arquidiocese de São Luis (MA) e então procurei o apoio do IESMA - Instituto de Ensinos Superiores, que prontamente se colocou a disposição para dar o suporte. Com este apoio iniciamos em 2014  um curso de formação litúrgica na entidade, a estrutura da formação foi pensada e planejada a partir da estrutura do documento conciliar Sacrosanctum Concilium (SC) em sistema modular (16 módulos) 160 horas aula, encontros de 15 em 15dias, nos sábados de 8 as 12h para um período de fevereiro a dezembro. Naquele ano a turma começou com 96 pessoas e concluiu com 84.
Formação liturgica permanente
Turma de 2014
Em 2015 a turma iniciou com 109 pessoas e concluíram 82. Começamos então a sentir que o projeto inicial precisava ser revisto e assim ganhar novos elementos e ajustes que atendesse a necessidades, foi mantido a mesma grade de 16 módulos, o mesmo sistema de encontros (datas, horário e período), porém a metodologia foi modificada e começamos a seguir o VER - JULGAR e AGIR com utilização de métodos de vivências. O projeto ganhou mais consistência e surgiu a necessidade de criar uma turma de continuidade (2ª etapa) como também recebemos sugestões que as turmas fossem menores para favorecer o aprendizado.
Formação permanente
Curso de liturgia no IESMA - 2015
Em 2016 analisamos as sugestões dos próprios participantes e montamos um calendário anual mantendo o mesmo critério dos anos anteriores, porém, a turma foi pensada para um número menor de participantes, com maior critério na escolha das assessorias.
formação liturgica
Iniciamos duas turmas, uma de de 1ª etapa (nos moldes anteriores) com 25 participantes e uma turma de 2ª etapa (36 participantes) com um encontro mensal para o período de Janeiro a dezembro.
Esta é a trajetória, o seguimento o caminho que ao longo da estrada vai se aperfeiçoando e nos transformando para conduzir a todos para uma mais plena participação.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Ciclo Pascal, o tempo essencial no ano litúrgico



Por: Diac. Carlos Magno Ericeira
È um dever da santa mãe Igreja celebrar todo o mistério de Cristo (encarnação, nascimento, paixão, morte, ressurreição e ascensão), por isso a cada semana (no domingo ) nos reunimos para fazer memória da sagrada obra da salvação. Este mesmo itinerário é percorrido em um ciclo anual que tem seu ponto culminante na solenidade da Páscoa e se desdobra para ‘oferecer aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos de seu Senhor’ .
O Ciclo da páscoa compreende a quaresma , semana santa (com o tríduo pascal), e o tempo da páscoa (que encerra-se com o Pentecostes), sua sistematização é datada do primeiro ao quarto século da era Cristã e é a partir dele que se desenvolve todo o ano litúrgico. Cada momento tem sua característica própria e o conjunto ‘revela todo o mistério de Cristo’, por isso, a insistência por parte da Igreja, da promoção em uma participação para que os fiéis em contato com estes mistérios sejam repletos da graça da salvação.
Todo o Ano litúrgico é regido por este evento, Páscoa; e diante de tantas desvirtualizações e principalmente do forte apelo consumista do tempo atual, é bom retomarmos alguns significados em torno desta palavra:
Páscoa (verbo grego paschein – padecer, sofrer), festa que o povo da antiga aliança celebrava em torno da mesa, onde comendo o cordeiro pascal (pesah) faziam memória da passagem da escravidão para a liberdade (cf. Ex 12, 21-23.27b.29-39), tradição herdada por Jesus e que posteriormente por Ele foi redimensionada em um sentido pascal de sua passagem para o mundo do Pai (cf. 1 Cor 11,23-26). Com sua sua glorificação e ascensão nossos pais e mães da fé se reuniam para fazer a memória e gradualmente a tradição apostólica ao longo da história estruturou as celebrações para que as comunidades pudessem tornar celebre este momento, a Ceia do Senhor, (momento em que o Senhor pelo o pão e vinho partilhados sinaliza a cumplicidade e reciprocidade que o leva a entrega-se total até o fim e derramar seu sangue por nós) antecipa sacramentalmente sua morte e ressurreição e institui o sacramento da eucaristia, do sacerdócio e do mandamento do Amor. “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal antes de sofrer” (Lc. 22,15)
Páscoa, expressão da tristeza e do luto que a cruz (do latim cruce) = instrumento de tortura, dor, angústia, escândalo e sofrimento) representava no tempo de Jesus, mas, que pela a sua ação salvifica se tornou sinal de esplendor, vitória e júbilo. Cruz que ao ser venerada e meditada ganha profundo e salutar significado, mas não nos deixa inertes, pelo contrário, revela um sentido sobrenatural para o sofrimento humano e a infinita misericórdia do Pai, “Completo na minha carne – diz o Apóstolo Paulo, ao explicar o valor salvífico do sofrimento — o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja.: e São João Paulo II exorta em sua carta apostólica “tal é o sentido do sofrimento: verdadeiramente sobrenatural e ao mesmo tempo humano; é sobrenatural, porque se redica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão.” (n 31) .
Páscoa que nós celebramos todo ano e ano todo, mas, que tem dia, período, ciclo, antes, durante e depois.
Viver o Ciclo da Páscoa na Igreja é viver um tempo especial que condensa o passado o presente e futuro, com um ANTES (a preparação) – (Quarenta dias de Jesus no deserto (Mt 4.2; Lc 4.1ss); Quarenta dias de Moisés no Sinai (Êx 34.28); Quarenta anos do povo no deserto (Ex 16.35); Elias em direção ao Horeb (1Rs 19.8); Quarenta dias de chuva no Dilúvio (Gn 7); Um DURANTE (a festa) (A Santa Ceia (Mt 26.17-30); O Lava-pés (Jo 13.1-17); Jesus no Getsêmani (Mt 26.36-46; Mc 14.26-31); O julgamento, sepultamento e a crucificação (Mt 27; Mc 15; Lc 23; Jo 19), A ressurreição no primeiro dia da semana.(Mt 28.1-20; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-18; At 1.14); E um DEPOIS (Cânticos Pascais (Sl 113 ao 118 e Ex 12); Festa das semanas (Êx 34.22; Lv 23.15); Jesus promete o Consolador (Jo 16.7); Jesus ressuscitado sopra seu Espírito (Jo 20.22); A chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2).
Nós conduz a experienciar pela sua Palavra sagrada, pelo seu dinamismo, vigor, força e pela sua ação celebrativa toda a plenitude que o Cristo sol da justiça que se deixar revelar ao romper da aurora do primeiro dia o dia do Senhor.
Contudo as celebrações neste tempo (domingo da ressurreição ao domingo de Pentecostes) devem ganhar ares de ‘alegria e exaltação’ como se fossem um ‘grande domingo’ . Para ajudar as equipes de preparação das celebrações vejamos algumas sugestões;
 
a) Destacar o sentimento de festa, com flores, incensos, toalhas brancas e etc.
b) Durante os 50 dias o círio pascal deverá estar no centro (local de destaque) das celebrações como sinal do Cristo vivo e ressuscitado, poderá ser entronizado e aceso de forma solene enquanto a assembleia canta um refrão meditativo, outra sugestão é que durante a profissão de fé, nas preces e ou na bênção final a comunidade pode ser convidada a aproxima-se ou estender a mão em sua direção.
c) Valorizar a fonte batismal, permanecendo em destaque com água abundante, devidamente ornamentada (se possível próximo do círio). O rito da água, neste tempo mais quem um sentido penitencial faz memória do batismo e pode, as vezes, tomar o lugar na profissão de fé.
d) A ultima semana é dedicada como tempo de oração pela unidade dos cristãos e merece uma atenção quer na preparação como também na hora da celebração, momento propício para retomar reflexões e fazer ligações com a Campanha da Fraternidade e o ano jubilar da misericórdia.
e) Cabe as equipes de liturgia (ministros e ministérios) procurar fazer a ligação dos diversos momentos vividos na comunidade (dia das mães, casamentos, mês de Maria…. etc) com o tempo pascal sem que um ofusque o outro. Para tal as reuniões de preparação, vivencias e estudos (leituras) com a utilização de sugestões e indicações contidas nos documentos, Introduções dos livros litúrgicos (missal, lecionários…) roteiros e demais subsídios poderão iluminar esta importante tarefa das equipes de celebração.

terça-feira, 15 de março de 2016

Reflexão sobre o Tríduo Pascal



Tríduo Pascal, tempo salutar para uma profunda vivência do âmago da fé

Por: Diac. Carlos Magno Ericeira    
 
Celebrando a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus que o Cristo realizou quando, morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida. O tríduo pascal[1], momento do ano litúrgico em que se traz presente e se realiza o mistério da páscoa do Cristo, constitui-se o centro[2] do próprio ano, mas, também de toda a vida e fé das comunidades cristãs. Este inicia-se com a missa vespertina da ceia do Senhor (quinta-feira santa), tem seu cume na solene vigília “mãe de todas as santas vigílias”[3] (sábado) e encerra-se na tarde do domingo da ressurreição (cf. CNBB 43 pag. 48), três momentos entrelaçados e inseparáveis de uma mesma realidade que a Igreja celebra, saboreando na vitória de Jesus a nossa própria vitória.
Momento anual tão esperado na vida de cada cristão e das comunidades, portanto, precisa ser bem celebrado, mas, para que isto ocorra é necessário uma compreensão (mesmo que mínima) de seu sentido e valor; Retomar detalhes históricos, indicações dos documentos, estudos dos textos bíblicos, sugestões litúrgicas e homiléticas ajudam na contextualização e possibilitam a comunidades e equipes litúrgicas solenizar o período central do Ano litúrgico, por outro lado, os que irão desempenhar serviços e ministérios, façam uma prévia preparação (com vivências, leitura orante e laboratórios) que os introduza no mistério celebrado e assim possam mais plenamente conduzir a Igreja reunida em assembleia a participação plena, ativa e frutuosa.  
Dentro deste contexto, façamos uma breve memória e vejamos algumas sugestões que possam iluminar a realização deste especial momento em nossas comunidades:     
Páscoa (verbo grego paschein – padecer, sofrer), festa que o povo da antiga aliança celebrava em torno da mesa, onde comendo o cordeiro pascal (pesah) faziam  memória da passagem da escravidão para a liberdade (cf. Ex 12, 21-23.27b.29-39), tradição herdada por Jesus e que posteriormente por Ele foi redimensionada em um sentido pascal de sua passagem para o mundo do Pai (cf. 1 Cor 11,23-26). Com sua sua glorificação e ascensão nossos pais e mães da fé se reuniam para fazer a memória e gradualmente a tradição apostólica ao longo da história estruturou as celebrações para que as comunidades pudessem tornar celebre este momento, a Ceia do Senhor, (momento em que o Senhor pelo o pão e vinho partilhados sinaliza a cumplicidade e reciprocidade que o leva a entrega-se total até o fim e derramar seu sangue por nós) antecipa sacramentalmente sua morte e ressurreição e institui o sacramento da eucaristia, do sacerdócio e do mandamento do Amor. “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal antes de sofrer” (Lc. 22,15)
Páscoa, expressada na tristeza e no luto que a cruz (do latim cruce) = instrumento de tortura, dor, angústia, escândalo e sofrimento) representava no tempo de Jesus,  mas, que pela a sua ação salvifica se tornou sinal de esplendor, vitória e júbilo. Cruz que ao ser venerada e meditada ganha profundo e salutar significado, mas não nos deixa inertes, pelo contrário, revela um sentido sobrenatural para o sofrimento humano e a infinita misericórdia do Pai, “Completo na minha carne - diz o Apóstolo Paulo, ao explicar o valor salvífico do sofrimento — o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja.: e São João Paulo II exorta em sua carta apostólica “tal é o sentido do sofrimento: verdadeiramente sobrenatural e ao mesmo tempo humano; é sobrenatural, porque se redica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão.” (n 31)[4].
É nesta perspectiva que entramos na sexta e a cruz entra em nossas assembleias para ser aclamada e adorada.
Páscoa, da vigilância, da real transformação, conversão e revelação, onde nós (cristãos e cristãs) ritualmente realizamos o que vivenciamos e com Cristo atravessamos das trevas a luz, da morte a vida. “noite que não conheces trevas, espantas todo sono e nos leva a velar com os anjos; noite pascal, por todo o ano esperada” (Santo Asterio de Amaséia) momento em que a comunidade na sua intimidade, simplicidade e fraternidade  é introduzida no evento que a constitui e a fundamenta - a ressurreição de Jesus Cristo. “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremos e nele exultemos (Sl 118)
Algumas sugestões para dinamizar a celebração
Quinta-feira santa – O local assume um tom festivo, com flores, velas, insenços, etc. Onde for oportuno pode-se retomar o costume judaico do acendimento das velas e para sinalizar esta pertença usa-se a menorá (candelabro de sete velas) e come-se ervas amargas. É importante dar a celebração uma dimensão de refeição e ceia, por isso se for oportuno sem que cause distorções e ou inconvenientes na comunidade, aconselha-se que: a) organize-se a nave da Igreja em sentido circular para favorecer que as pessoas possam se reunir em tono da mesa (altar); b) atendendo ao que é recomendado na SC 55, a comunhão sob duas espécie, especialmente neste dia, seja prevista com tudo o que for necessário para realizá-la inclusive se possível com a utilização de pães azimos no lugar das hóstias; c) de forma sóbria e serena, pensar e organizar o altar para adoração eucarística, esta por sua vez não deve se prolongar pela noite inteira para nao se sobrepor a vigília (ponto alto) e nem cansar demasiadamente as pessoas.
Sexta-feira santa – aqui a liturgia assume o tom do despojamento e simplicidade, o altar desnudo é sinal de luto e dor da comunidade, o silêncio ocupa o lugar mais importante na mística da celebração. Para a dinâmica da celebração é importante além de garantir os elementos acima propostos, uma boa leitura da paixão com distribuição de tarefas e ensaios prévios; cuidados com a oração universal obedecendo os intervalos e os momentos de silêncio e para a adoração da cruz prever um crucifixo grande coberto, ladeados por dois ministros com velas.
Vigília Pascal – Dar a esta noite uma dimensão cósmica, universal com abertura ecumênica, alargando as fronteiras e comunhão especialmente com as outras Igrejas e culturas. É importante pensar bem e preparar os diversos elementos e momentos destas celebração: a) para a liturgia da luz e do fogo, preparar a fogueira, prever o círio e velas para todos os participantes; b) a cruz poderá neste dia ser coberta de flores e intronizada durante a proclamação pascal (exultet); c) na liturgia da palavra com vivencias previas e mantendo na integra o seu conteúdo é possível agregar recursos narrativos e  cênicos; d) onde for  acontecer a celebração dos sacramentos de iniciação prever o que for necessário, porém, mesmo que não haja seria enriquecedor organizar uma solene entrada da água a ser colocada na pia batismal antes da renovação do batismo; e) A vigília também tem uma dimensão de refeição e se for oportuno é bom reforçar os elementos da ceia com pães azimos e comunhão sob duas espécies e após a celebração um ágape fraterno.
Domingo da Ressurreição – primeiro dia da semana, (= dominus, dia do Senhor). Dia primordial para os cristãos "o dia do Senhor, o dia da Ressurreição, o dia dos cristãos, é nosso dia. Por isso é chamado dia do Senhor: porque é neste dia quando o Senhor subiu vitorioso junto ao Pai. Se os pagãos o chamarem dia do sol, também o fazemos com gosto; porque hoje amanheceu a luz do mundo, hoje apareceu o sol de justiça cujos raios trazem a salvação" (CIC, 1166).
(CIC 2175)[5]“O Domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do Sábado judaico e anuncia o repouso eterno do homem em Deus. Com efeito, o culto da lei preparava o mistério de Cristo, e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo (1Cor 10,11)”.
Assim para todos os domingos (páscoa anual e semanal) a celebração terá ares de festa com as características próprias de seu tempo.
            Eis o tempo! Celebrá-lo em Espírito e verdade é para nós mas que uma simples memória histórica é ver acontecer “á Páscoa do Cristo na Páscoa da gente....” é expressar a misericórdia do Pai e acreditar em um mundo renovado, ré-justiçado e ressuscitado, onde, o equilíbrio natural e social da ‘casa comum’ se transfigure em um mundo de irmãos.  Feliz Páscoa para todo o universo!


[1] cf. IGMR 19
[2] cf. IGMR 18 – ibid., n106
[3] Santo Agostinho, Sermão 219: PL 38,1088
[4] Carta apostólica “Salvifici Doloris” João Paulo II
[5] CIC – Catecismo da Igreja Católica

Não perca tempo, faça um curso online!

CMliturgo - Diacono Carlos Ericeira

Canal aberto para quem admira, estuda, ou tem curiosidade sobre assuntos ligados as ações litúrgicas da Igreja.