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sábado, 30 de janeiro de 2016

CURSO COMPLETO PARA DAR UMA BOA HOMILIA - TEXTO 03



03 -Como melhorar a Pregação Sagrada
Hoje falaremos de alguns conselhos práticos que podem ajudar o Pregador Sagrado na sua missão:
Resultado de imagem para pregaçao sagradaCompreender o seu público, ou seja, aquelas pessoas a quem vamos pregar. Conhecer a idiossincrasia destas pessoas, suas qualidades, suas fraquezas, seus problemas, seu modo de ser. A Igreja chama isso de “inculturação”. Um espanhol e um brasileiro não são iguais; nem um francês e um americano, um alemão e um africano… É necessário falar com a linguagem das diversas culturas, fazer-nos tudo a todos para ganhá-los para Cristo, como São Paulo (cf. 1 Cor 9, 20-22). Não podemos ir à América Latina com categorias europeias. Simplesmente não nos entenderão! Ou pior ainda, nos recusarão! “Amanhã te escutaremos” parafraseando Atos 17, 32.
Preparar bem cada pregação, sem improvisar, deixando tudo para a última hora. A pregação não é algo que fazemos a título pessoal. Não! Pregamos em nome da Igreja. É a Igreja que, nesse momento explica a Palavra de Deus, através do pregador sagrado. Portanto, preparar a pregação a partir da oração pessoal. Mas também lendo comentários dos Papas, de autores espirituais bem sólidos e provados, sobre esses textos litúrgicos ou sobre esse tema do qual pregaremos. Os melhores comentários que existem sobre os evangelhos são OS SANTOS PADRES. Temos que ler muito os Santos Padres. São sempre atuais. São um verdadeiro tesouro a ser descoberto ainda. É como subir-se em ombros de gigantes. Um exemplo disso é o Papa Bento XVI. É por isso que as suas pregações são tão profundas, embora simples.
Ser ordenado e estruturado nas ideias da pregação: hoje temos que transmitir somente uma ideia na homilia ou na palestra, e desenvolver essa ideia em dois ou três aspectos bem travados e unidos. Mas somente uma ideia. Só então é que o ouvinte sairá com uma ideia bem aprendida e tentará vivê-la no seu dia a dia. Das três leituras dominicais pode-se tirar perfeitamente uma só ideia, desenvolvida em dois ou três aspectos. Por exemplo, uma homilia com a liturgia de um domingo: Deus nos convida à conversão (única ideia, tirada do evangelho); essa conversão supõe reconhecer-nos pecadores (primeiro aspecto dessa única ideia, tirada talvez da primeira leitura dominical ou do salmo responsorial); essa conversão trará como efeito a paz interior e a reconciliação com Deus (segundo aspecto dessa única ideia, tirada talvez da segunda leitura dominical). E os dois aspectos devem estar apoiados nos textos litúrgicos lidos. Uma só ideia! Quem fala de muitas ideias só consegue dispersar o ouvinte e não deixará nada claro e nem concreto. Quem diz muitas ideias está manifestando que não preparou profundamente a sua pregação. Provoca uma autêntica indigestão espiritual nos que escutam.
Ser criativo ao expor a ideia: essa ideia tem que ser apresentada com alguma metáfora, imagem, novidade, um fato ou anedota… Só assim ficam mais facilmente gravadas na alma do ouvinte, pois aparecerá como novidade e originalidade. Nisso o cardeal vietnamita Van Thuan, que Deus o tenha, era modelo. Não ser chatos com ideias já usadas e sem originalidade. É preciso ser atraentes e incisivos. Isso não se consegue com excentricidades ou com continhos e nem fazendo rir. Não! Isso se consegue tendo meditado muito e com profundidade na Palavra de Deus. E observando muito a vida humana.
Distinguir o modelo de pregação que me é pedido e o lugar onde se dá a pregação: primeiro, distinguir que tipo de pregação devemos dar, pois uma coisa é pregar uma homilia, outra uma reflexão numa hora santa com Cristo Eucaristia exposto; uma coisa é uma palestra aberta num auditório, outra é uma meditação num retiro; uma coisa é dar uma conferência a jovens e outra pregar a adultos ou a crianças ou a sacerdotes. E o lugar: porque uma coisa é pregar na capela, outra coisa é pregar num salão de estar ou num estádio ou numa fábrica. Tudo isso deve ser levado em conta na hora da pregação.
Sempre ser expressivo: sem forçar o próprio temperamento, não querendo ser aquele que é mais apaixonado e dinâmico… mas é preciso ser expressivo. Lembre-se dos três elementos de toda a pregação: idéias de fundo, forma concreta dessas ideias e expressão (velocidade e temperatura oratória) destas idéias. É necessário combinar os três elementos para que a pregação seja perfeita. Todo o nosso ser deve ser expressivo: voz, gestos, mãos, corpo, olhos, sentimentos, emoções, silêncio, questionamentos e perguntas diretas… Não devemos ser tímidos, nem ter medo de falar, nem falar com voz apagada ou monótona, ou em abstrato ou sem olhar para o auditório. Se fizermos isso o povo dorme. As pessoas vão odiar a nossas pregações, em vez de gozar com a pregação sagrada. Fides ex auditu, nos fala São Paulo, “a fé entre pelo ouvido” (Rm 10, 17).
Pregar a todo homem e ao homem todo: a todo homem: à criança, ao adulto, ao ancião, ao enfermo, ao que sofre, ao ignorante e ao simples, ao complicado e questionador… e a todo o homem: inteligência, sentimentos, afetos, coração, vontade… E a Palavra de Deus pregada tem que “tocar” a existência humana em todos os campos: pessoal, familiar, laboral, profissional, religioso… Por isso, o pregador buscará aplicar essa Palavra de Deus e “fazê-la caminhar” pelos meandros da vida dou ouvinte. O ouvinte durante a pregação deveria dizer: “Isso! É isso que eu preciso, encaixa perfeitamente o que fala esse pregador”. É assim que o ouvinte se deixará transformar por essa Palavra de Deus que o pregador soube baixar para a vida deles concretamente. E com certeza vamos ter essa pessoa em todas as nossas pregações porque nos entende e entende que a Palavra de Deus explicada é muito atual para a sua vida, e não algo do passado ou de museu.
Ser simples, respeitoso e positivo ao pregar:  não  insistir tanto no que está mal. Apresente mais o bem que por si só atrai. Não estamos no século de certa apologética agressiva, inflexível, rigorosa e um pouco arrogante. Hoje temos de conquistar as pessoas com a bondade, com a simplicidade, com o encanto e a gota de mel. Isso não significa que não devemos dizer a verdade. É necessário apresentá-la, mas com bondade e respeito, para que atraia. Quando seja preciso falar algo forte, duro e negativo (p.e. os que vivem juntados ou divorciados e casados em segunda união não podem e nem devem comungar, etc…), é necessário falar em terceira pessoa e nunca interpelar a pessoa em questão. Não dizer: “Você que está juntado… não deve comungar”. Seria muito ofensivo. É melhor dizer: “Quem se encontra nessa situação não deveria se aproximar da comunhão porque…”. E quando se trata de algo positivo, então sim, interpelar em segunda pessoa: “Que bom que você foi generoso e fiel! Deus será também com você”.
Sentir com a Igreja em tudo o que ela se propôs para este ano: se é o ano sacerdotal, não deveria ter nenhuma pregação durante o ano que não tivesse alguma menção sobre essa circunstância… se é o ano paulino, o mesmo. Ou o ano dedicado a Jesus Cristo (1997), ou ao Espírito Santo (1998), ou a Deus Pai (1999), ou o ano da Eucaristia (2000). Ou o ano da fé (2013) ou o ano da misericordia, no qual estamos agora. Não se pode caminhar em paralelo com a Igreja. Os tríduos desse ano e os exercícios espirituais e os retiros, as homilias deveriam estar focadas e marcadas por essa circunstância eclesial. Isso é parte do “sentire cum Ecclesia”. Devemos ir ao passo da Igreja. Também nisso.
Destacar com frequência nas pregações aspectos e virtudes dos santos: os santos são nossos irmãos que já conseguiram o que nós estamos procurando: a santidade de vida. Eles nos dão exemplo e nos dizem quais aspectos são necessários praticar para agradar a Deus, crescer nas virtudes e alcançar a salvação eterna, que é a graça das graças. Quanto são edificantes as anedotas dos santos! Compre livros de santos e leia-os. E assim você vai colocar nas pregações exemplos maravilhosos e edificantes dos santos nos temas que estará tratando na pregação.

Conclusão: Espero que esses conselhos sirvam para que a sua pregação seja a cada dia de qualidade, para a glória de Deus e a salvação das almas. Isso é o que me tem ajudado. Não sei se lhes ajudará, pois todos somos diferentes.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

CURSO COMPLETO PARA DAR UMA BOA HOMILIA - TEXTO 02

02 -Como melhorar a Pregação Sagrada
Coluna do Pe. Antonio Rivero, L.C., professor de Teologia e Oratória no seminário Interdiocesano Mater Ecclesiae de São Paulo.

Hoje vamos falar dos pré-requisitos da Pregação Sagrada:
       O primeiro é estar ciente de que somos ministros da Palavra desde o batismo, e essa responsabilidade aumenta no dia na nossa ordenação sacerdotal. Por isso devemos ler, meditar, ruminá-la durante toda a nossa vida. Devemos fazê-la nossa, vestir-nos dessa Palavra, encarná-la na nossa vida. Somente assim a transmitiremos fielmente, sem cortes, sem mínguas, sem obscurecê-la ou rebaixá-la.
            Em segundo lugar estar ciente de que é Deus que converte as almas, não nós. Mas Ele nos utiliza como canais, alto-falantes, aquedutos e ministros da sua Palavra para iluminar as mentes, aquecer os corações e mover as vontades para que amem a Deus e cumpram os seus mandamentos. Por isso, temos que estar bem preparados neste campo da pregação da Palavra. Todos os nossos estudos humanísticos, filosóficos, teológicos, pedagógicos… têm como termo final a nossa pregação, seja escrita (livros, artigos…), seja oral (homilias, retiros, congressos, palestras…) para a conversão das almas à luz desse Palavra transmitida e explicada por nós. Estudamos para estarmos melhor preparados na hora da nossa pregação sagração, não por desejo de vaidade, mas porque essa Palavra de Deus merece ser tratada e anunciada com dignidade, clareza e unção.

               Em terceiro lugar estar ciente de que a Palavra de Deus está destinada a brotar, a crescer e a dar fruto na alma dos homens. Por si mesma, a Palavra tem toda a força de entrar no coração do homem e convertê-lo. Então, onde está o erro? Uma de duas coisas: ou em quem prega, que não sabe fazê-lo, ou no campo – na alma – que recebe essa Palavra pregada. Que pelo menos não seja por nossa culpa como pregadores sagrados. Se o coração dos homens está fechado como Cristo nos diz na parábola do semeador por causa das pedras, dos espinhos, da superficialidade (cf. Mateus 13, 1ss Parábola do Semeador)… aí está o desafio de um bom pregador: ajudar essas almas a se abrirem para a Palavra. E quais são os recursos que existem além da oração e do sacrifício? A pregação bem preparada, incisiva, respeitosa, profunda, clara, motivadora e bem pronunciada!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CURSO COMPLETO PARA DAR UMA BOA HOMILIA - TEXTO 01



TEXTO 01 
Como melhorar a Pregação Sagrada
Com a intenção de colaborar na Pregação Sagrada começamos hoje uma nova coluna dirigida especialmente, mas não somente, aos sacerdotes: “Como melhorar a pregação Sagrada / Coluna do Pe. Antonio Rivero, L.C., professor de Teologia e oratória no seminário Interdiocesano Mater Ecclesiae de São Paulo”.
P adre Antonio Rivero nasceu em Ávila (Espanha) em 1956. Possui Mestrado em Humanidades Clássicas, Mestrado em Filosofia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Mestre e Doutor em Teologia, pelo Ateneu Regina Apostolorum, também em Roma. Publicou cinco livros e gravou mais de 200 CDs de formação. Ministra conferências nos Estados Unidos e em Latino América sobre pastoral familiar, formação católica e juventude e oferece cursos de formação para religiosas e sacerdotes.
***
Agradeço a Zenit a oportunidade de colaborar com um grão de areia na formação sacerdotal neste campo da Pregação Sagrada, tão importante hoje em dia.
Hoje começamos essa coluna que com alegria e prazer quero compartilhar com vocês, fruto da minha formação, primeiro como professor de oratória por mais de 30 anos, e depois, com a experiência que Deus me deu desses 26 anos como sacerdote, caminhando por este mundo de Deus pregando, levando e explicando a Palavra de Deus. Todo ano eu tenho a graça de pregar para o mundo latino dos Estados Unidos. Também Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru e Brasil, puderam escutar a minha voz.
E para ser mais clara a apresentação desta coluna de Zenit sobre a Pregação, deixo-lhes hoje alguns pontos para que fiquem no grande tesouro da memória:
1. Toda a nossa vida como sacerdotes será pregar.
2. Existem várias formas de pregação: a oração, o sacrifício, o testemunho pessoal, o ministério dos sacramentos e o ministério propriamente da pregação sagrada, tão importante hoje.
3. A pregação sagrada ou oratória sagrada não é uma técnica para vender nossa “mercadoria” de Deus. Isso seria uma espécie de profanação da Palavra de Deus. Assim fazem algumas seitas protestantes que se preparam nos aspectos psicológicos da oratória para ganhar seguidores e dinheiro. Isso não deve acontecer conosco, ministros e pregadores dos Mistérios de Deus.
4. Ninguém quer ter um auditório dormido, bocejando, chateado… na hora da pregação. Queremos um auditório que desfrute e esteja bem disposto para a nossa pregação. A fé vem pelo ouvido, nos diz são Paulo em Romanos 10, 17. Para isso, é necessário saber pregar bem. Não somente pregar. É necessário pregar bem, porque nem sempre teremos diante pessoas que nos suportem por caridade, nos aguentem e não nos falem nada sobre a nossa pregação.
5. Ofereço-lhes esta coluna de Pregação Sagrada, como fruto da minha experiência de pregador, durante meus 26 anos de ministério sacerdotal. Doze desses anos, preguei diariamente na paróquia de Buenos Aires; além do mais dei inúmeras palestras, tríduos, retiros e exercícios espirituais que oferecia a homens e mulheres.
6. Estas são dicas que me ajudaram. Esperemos que também possam ajudá-los, queridos sacerdotes.

CURSO COMPLETO PARA DAR UMA BOA HOMILIA - INTRODUÇÃO

Muitas pessoas me pedem e buscam no nosso blog dicas e informações sobre a liturgia e mais especificamente sobre a arte da pregração, pois esta constitui-se um verdadeiro desafio nos tempos atuais.
O Pe. Antonio Rivero, L.C., professor de Teologia e oratória no seminário Interdiocesano Mater Ecclesiae de São Paulo”. Editou pelo Site da  ZENIT vários textos (35 ao todo) sobre o assunto e eu li, estudei e colecionei, agora vou disponibiliza-lo para os seguidores do CMLITURGO, a partir desta data durante 35 dias será editado 1 texto sobre o assunto, enumerei para facilitar o acompanhamento, os textos estarão dispostos na integra e nos reservaremos a colocar nossas considerações nos comentários e se for o caso os encaminhar para o endereço eletrônico do próprio professor para que dele recebamos as respostas.
Trata-se de um CURSO COMPLETO SOBRE PREGAÇÃO SAGRADA, espero que desfrutem destes ensinamentos e assim possamos juntos conversar e frutificar em nossas atividades missionárias.

Cordialmente 
Diac. Carlos Ericeira

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Meus queridos amigos o blog CMLITURGO foi pensado para se tornar um canal de  comunicação com todos que como eu buscam aprofundamento sobre a liturgia da  Igreja.

Formação permanente
Curso de liturgia no IESMA - 2015

Portanto é fundamental trocar informações e experiências, para que esta página ganhe outras características, novos públicos e novos moldes. Com a sua sugestão e opinião este serviço informativo se tornará mais dinâmico e poderei, fazer um trabalho de pesquisa (em meios eletrônicos, livros, revistas, vídeos, matérias, artigos e estudos que sejam (de credibilidade) sobre os temas sugeridos.

 Assim editaremos matérias sempre direcionadas e ao aprofundamento da liturgia e que favoreçam a consciente, ativa e frutuosa participação na ação celebrativa.

Estou aguardando que os visitantes, leitores e seguidores, deixem seus comentários, vamos juntos construirmos mais um espaço aberto para a informação litúrgica.

MUITO OBRIGADO!

 Carlos Ericeira


 

Homilética: IV Domingo do Tempo Comum

Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C., Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil)

Ciclo C - Textos: Jr 1, 4-5.17-19; 1 Co 12, 31-13,13; Lc 4, 21-30
Barbed wireIdeia principal: Cristo e os seus seguidores seremos sinal de contradição.
Síntese da mensagem: Hoje é a continuação do Evangelho da semana passada. Um autêntico cristão- chame-se Papa, bispo, sacerdote, religiosa, leigo- sempre será sinal de contradição, a exemplo de Cristo, que não foi compreendido, que jogou na cara dos seus compatriotas a falta de fé, e por isso  quiseram jogá-lo do barranco para baixo (evangelho). Diante disto devemos reagir com a caridade de Cristo (2 leitura), sem medo e com a confiança em Deus, quem nos consagrou desde o batismo para ser profetas para as nações e está do nosso lado para nos salvar (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Cristo foi desde que nasceu sinal de contradição; assim disse Simeão a Maria e a José quando estes o apresentaram no templo (cf. Lc 2, 21-40). Jesus foi falar três vezes na sua cidade, Nazaré. Na primeira o aplaudiram até o ponto de sair fumaça das palmas da mão, porque falava “como os anjos”, era o seu paisano e não tinha mais do que falar. Na segunda o vaiaram porque emendou a página ao profeta Isaias, o filho do carpinteiro ao profeta, até ai podemos chegar!, dizendo que o Messias não é o Deus das vinganças, mas o Deus das bondades e do perdão. Na terceira vez, foi a vencida: porque igualou diante de Deus os estrangeiros, judeus e pagãos, empurram-no pelas ruas até os arredores da cidade, ao precipício, e uma investida do povo e… como pode passar pela cabeça de alguém colocar no mesmo nível pagãos, estrangeiros e judeus, estes últimos que eram raça eleita por Deus? Definitivamente esse Jesus de Nazaré pirou de vez. Sinal de contradição! Porque prega outra Notícia diferente- as bem-aventuranças-, mais interior e não tanto exterior e escrava de preceitos, e que não fazia ressoar o eco do Antigo Testamento… está desfigurando a religião de Israel! Porque ia nos banquetes, comia e bebia com pecadores. Porque permitia ser tocado pelos pecadores, era considerado um proscrito e que cheirava mal. Porque deixava que o acompanhassem mulheres que o serviam nas suas necessidades, e não cumpria a lei de Moisés. Porque ensinava nas ruas e nas estradas sem ter o seu título e sem ser escriba sabichão e sem levar um livro debaixo do braço, era criticado. Porque deixava que as crianças se aproximassem Dele, e as acariciava e abençoava, estava debaixo da lupa dos fariseus e dos doutores da lei. Porque era um peregrino itinerante que não tinha onde reclinar a cabeça, era considerado esquisito e fora do comum. Sinal de contradição! “Veio aos seus e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Para quem Jesus é sinal de contradição e pedra de escândalo? Para os soberbos, para os que se resistem a crer, converte-se em “rocha de escândalo” (cf. 1 Pe 2,8). E é o mesmo Senhor quem adverte: “Bem- aventurado o que não se escandalize de mim” (Mt 11,6).
Em segundo lugar, a Igreja também foi, é e será sinal de contradição. A pregação da Igreja, a sua mesma presença no meio do mundo, resulta incômoda quando, fazendo-se eco do ensinamento de Cristo, pronuncia o que não deseja ser ouvido; quando recorda que o homem não é Deus, que a lei ditada pelos homens nem sempre coincide com a lei de Deus; quando desafia os convencionalismos pacificamente aceitados pelo nosso egoísmo, pela nossa comodidade e pela nossa soberba; quando proclama a verdade do matrimônio uno, indissolúvel, fecundo, até a morte. A Igreja é sinal de contradição quando não comunga com as ideologias de moda. Como Jeremias (1 leitura) e como Cristo, a Igreja não deve se amedrontar. É Deus quem faz para o profeta praça forte, coluna de ferro e muralha de bronze. A força da Igreja não provem do poder das armas, o do dinheiro, o do prestigio mundano. A força da Igreja provem da sua fidelidade ao Senhor. A resistência da Igreja radica na força paradoxal do amor; um amor que “desculpa sem limites, crê sem limites, espera sem limites, aguenta sem limites” (1 Cor 13,7). A autêntica prioridade para a Igreja, escreveu o Papa Bento XVI, é “o compromisso laborioso pela fé, pela esperança e pelo amor no mundo”. Com essa prioridade devemos trabalhar todos, aceitando o desafio da rejeição, e dando, incansavelmente, testemunho do amor de Deus.
Finalmente, os autênticos seguidores de Cristo, os profetas de Deus experimentarão também este sinal de contradição. Esta é uma constante que acompanha os autênticos profetas, desde o Antigo Testamento até os tempos presentes. Os falsos profetas, os que dizem o que as pessoas querem escutar e, sobretudo, o que compraz os ouvidos dos poderosos, prosperam. Mas os profetas verdadeiros resultam incômodos e provocam uma reação em contra quando na sua pregação tocam temas candentes, colocando o dedo na ferida de alguma injustiça ou situação de infidelidade. Se não, perguntemos a São João Batista ao denunciar o adultério do rei Herodes. Ou ao beato Oscar Romero, que ganhou o apelido de “a voz dos sem voz”. A sua defesa dos mais desfavorecidos de El Salvador fez que o Parlamento britânico o propusesse como candidato para o Premio Nobel da Paz em 1979. Desgraçadamente, os seus contínuos chamamentos ao diálogo, para que os ricos não se aferrassem ao poder, e os oprimidos não optassem pelas armas, não surtiram efeito, apesar da popularidade que alcançaram as suas homilias dominicais. Obstinados em reprimir toda oposição, agentes do Estado terminaram por assassinar o monsenhor Romero, no dia 23 de marco de 1980, e continuaram violando os direitos humanos, provocando uma guerra civil em El Salvador que duraria onze anos e causaria 70.000 mortos.
Para refletir: reflitamos nestas palavras do Papa Francisco: “Mantemos o olhar fixo em Jesus, porque a fé, que é o nosso “sim” à relação filial com Deus, vem Dele, vem de Jesus. É Ele o único mediador desta relação entre nós e o nosso Pai que está no céu. Jesus é o Filho, e nós somos filhos Nele. […] Por isto Jesus diz: veio trazer divisão; não é que Jesus queira dividir os homens entre si, ao contrário: Jesus é a nossa paz, a nossa reconciliação. Mas esta paz não é a paz dos sepulcros, não é neutralidade, Jesus não traz neutralidade, esta paz não é uma fábula a qualquer preço. Seguir Jesus comporta renunciar o mal, o egoísmo e eleger o bem, a verdade, a justiça, inclusive quando isto requer sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide; sabemos disto, divide inclusive as relações mais próximas. Porém, atenção: não é Jesus quem divide. Ele põe o critério: viver para si mesmos, ou viver para Deus e para os demais; fazer-se servir, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis aqui em que sentido Jesus é “sinal de contradição” (Homilia de S.S. Francisco, 18 de agosto de 2013).
Para rezar: Senhor, dai-me coragem para poder ser sinal de contradição sem medo, seguindo vosso exemplo e de tantos irmãos e irmãs cristãos, que inclusive deram a vida por Vós e pelo Evangelho
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org
Acesse também: Curso completo para dar uma boa homilia

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2016

ZENIT - By HSM

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“‘Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar” é o tema da Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2016, divulgada nesta terça-feira, 26 de janeiro.
Eis o texto na íntegra:
«“Prefiro a misericórdia ao sacrifício”           (Mt 9, 13).
As obras de misericórdia no caminho jubilar»
  1. Maria, ícone duma Igreja que evangeliza porque evangelizada
Na Bula de proclamação do Jubileu, fiz o convite para que «a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus» (Misericordiӕ Vultus, 17). Com o apelo à escuta da Palavra de Deus e à iniciativa «24 horas para o Senhor», quis sublinhar a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a palavra profética. Com efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo; mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. Por isso, no tempo da Quaresma, enviarei os Missionários da Misericórdia a fim de serem, para todos, um sinal concreto da proximidade e do perdão de Deus.
Maria, por ter acolhido a Boa Notícia que Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta profeticamente, no Magnificat, a misericórdia com que Deus A predestinou. Deste modo a Virgem de Nazaré, prometida esposa de José, torna-se o ícone perfeito da Igreja que evangeliza porque foi e continua a ser evangelizada por obra do Espírito Santo, que fecundou o seu ventre virginal. Com efeito, na tradição profética, a misericórdia aparece estreitamente ligada – mesmo etimologicamente – com as vísceras maternas (rahamim) e com uma bondade generosa, fiel e compassiva (hesed) que se vive no âmbito das relações conjugais e parentais.
  1. A aliança de Deus com os homens: uma história de misericórdia
O mistério da misericórdia divina desvenda-se no decurso da história da aliança entre Deus e o seu povo Israel. Na realidade, Deus mostra-Se sempre rico de misericórdia, pronto em qualquer circunstância a derramar sobre o seu povo uma ternura e uma compaixão viscerais, sobretudo nos momentos mais dramáticos quando a infidelidade quebra o vínculo do Pacto e se requer que a aliança seja ratificada de maneira mais estável na justiça e na verdade. Encontramo-nos aqui perante um verdadeiro e próprio drama de amor, no qual Deus desempenha o papel de pai e marido traído, enquanto Israel desempenha o de filho/filha e esposa infiéis. São precisamente as imagens familiares – como no caso de Oseias (cf. Os 1-2) – que melhor exprimem até que ponto Deus quer ligar-Se ao seu povo.
Este drama de amor alcança o seu ápice no Filho feito homem. N’Ele, Deus derrama a sua misericórdia sem limites até ao ponto de fazer d’Ele a Misericórdia encarnada (cf. Misericordiӕ Vultus, 8). Na realidade, Jesus de Nazaré enquanto homem é, para todos os efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de encarnar aquela escuta perfeita de Deus que se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro ainda hoje da aliança de Deus com Israel: «Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças» (Dt 6, 4-5). O Filho de Deus é o Esposo que tudo faz para ganhar o amor da sua Esposa, à qual O liga o seu amor incondicional que se torna visível nas núpcias eternas com ela.
Este é o coração pulsante do querigma apostólico, no qual ocupa um lugar central e fundamental a misericórdia divina. Nele sobressai «a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado» (Evangelii gaudium, 36), aquele primeiro anúncio que «sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese» (Ibid., 164). Então a Misericórdia «exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar» (Misericordiӕ Vultus, 21), restabelecendo precisamente assim a relação com Ele. E, em Jesus crucificado, Deus chega ao ponto de querer alcançar o pecador no seu afastamento mais extremo, precisamente lá onde ele se perdeu e afastou d’Ele. E faz isto na esperança de assim poder finalmente comover o coração endurecido da sua Esposa.
  1. As obras de misericórdia
A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual. Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em actos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo. Por isso, expressei o desejo de que «o povo cristão reflicta, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina» (Ibid., 15). Realmente, no pobre, a carne de Cristo «torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga… a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós» (Ibid., 15). É o mistério inaudito e escandaloso do prolongamento na história do sofrimento do Cordeiro Inocente, sarça ardente de amor gratuito na presença da qual podemos apenas, como Moisés, tirar as sandálias (cf. Ex 3, 5); e mais ainda, quando o pobre é o irmão ou a irmã em Cristo que sofre por causa da sua fé.
Diante deste amor forte como a morte (cf. Ct 8, 6), fica patente como o pobre mais miserável seja aquele que não aceita reconhecer-se como tal. Pensa que é rico, mas na realidade é o mais pobre dos pobres. E isto porque é escravo do pecado, que o leva a utilizar riqueza e poder, não para servir a Deus e aos outros, mas para sufocar em si mesmo a consciência profunda de ser, ele também, nada mais que um pobre mendigo. E quanto maior for o poder e a riqueza à sua disposição, tanto maior pode tornar-se esta cegueira mentirosa. Chega ao ponto de não querer ver sequer o pobre Lázaro que mendiga à porta da sua casa (cf. Lc 16, 20-21), sendo este figura de Cristo que, nos pobres, mendiga a nossa conversão. Lázaro é a possibilidade de conversão que Deus nos oferece e talvez não vejamos. E esta cegueira está acompanhada por um soberbo delírio de omnipotência, no qual ressoa sinistramente aquele demoníaco «sereis como Deus» (Gn 3, 5) que é a raiz de qualquer pecado. Tal delírio pode assumir também formas sociais e políticas, como mostraram os totalitarismos do século XX e mostram hoje as ideologias do pensamento único e da tecnociência que pretendem tornar Deus irrelevante e reduzir o homem a massa possível de instrumentalizar. E podem actualmente mostrá-lo também as estruturas de pecado ligadas a um modelo de falso desenvolvimento fundado na idolatria do dinheiro, que torna indiferentes ao destino dos pobres as pessoas e as sociedades mais ricas, que lhes fecham as portas recusando-se até mesmo a vê-los.
Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia. Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais directamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar. Por isso, as obras corporais e as espirituais nunca devem ser separadas. Com efeito, é precisamente tocando, no miserável, a carne de Jesus crucificado que o pecador pode receber, em dom, a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo. Por esta estrada, também os «soberbos», os «poderosos» e os «ricos», de que fala o Magnificat, têm a possibilidade de aperceber-se que são, imerecidamente, amados pelo Crucificado, morto e ressuscitado também por eles. Somente neste amor temos a resposta àquela sede de felicidade e amor infinitos que o homem se ilude de poder colmar mediante os ídolos do saber, do poder e do possuir. Mas permanece sempre o perigo de que os soberbos, os ricos e os poderosos – por causa de um fechamento cada vez mais hermético a Cristo, que, no pobre, continua a bater à porta do seu coração – acabem por se condenar precipitando-se eles mesmos naquele abismo eterno de solidão que é o inferno. Por isso, eis que ressoam de novo para eles, como para todos nós, as palavras veementes de Abraão: «Têm Moisés e o Profetas; que os oiçam!» (Lc 16, 29). Esta escuta activa preparar-nos-á da melhor maneira para festejar a vitória definitiva sobre o pecado e a morte conquistada pelo Esposo já ressuscitado, que deseja purificar a sua prometida Esposa, na expectativa da sua vinda.
Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão! Pedimo-lo pela intercessão materna da Virgem Maria, a primeira que, diante da grandeza da misericórdia divina que Lhe foi concedida gratuitamente, reconheceu a sua pequenez (cf. Lc 1, 48), confessando-Se a humilde serva do Senhor (cf. Lc 1, 38).

“Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa”

Texto completo. Francisco recorda que “evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus; esta é também a missão da Igreja, e de todo batizado na Igreja”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje, o evangelista Lucas antes de apresentar o discurso programático de Jesus em Nazaré, resume sua atividade evangelizadora. É uma atividade que Ele cumpre com a força do Espírito Santo: a sua palavra é original, porque revela o sentido das Escrituras; é uma palavra que tem autoridade, porque manda até mesmo nos espíritos impuros e eles obedecem (cf. Mc 1,27). Jesus é diferente dos mestres de seu tempo. Não abriu uma escola para o estudo da Lei, mas pregava e ensinava em todo lugar: nas sinagogas, pelas ruas e nas casas. Jesus é diferente também de João Batista que proclama o juízo iminente de Deus, enquanto Jesus anuncia o seu perdão de Pai.
E agora imaginemo-nos entrando na sinagoga de Nazaré, cidade onde Jesus cresceu até os trinta anos. O que acontece é um fato importante que delineia a missão de Jesus. Ele se levanta para ler a Sagrada Escritura. Abre o livro do profeta Isaías e encontra a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim; porque ele me consagrou com unção e me enviou para anunciar a Boa Nova aos pobres “(Lc 4,18). Depois de um momento de silêncio cheio de expectativa por parte de todos, diz, diante da perplexidade geral: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabaram de ouvir” (v. 21).
Evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus; esta é também a missão da Igreja, e de todo batizado na Igreja. Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho com a palavra e, primeiramente, com a vida, é a finalidade principal da comunidade cristã e de todo seu membro. Observa-se que Jesus dirige a Boa Nova a todos, sem excluir ninguém, aliás, privilegia os que estão distantes, os sofredores, os doentes, os descartados pela sociedade.
Perguntemo-nos: o que significa para evangelizar os pobres? Significa se aproximar deles, ter alegria em servi-los, libertá-los de sua opressão e tudo isso no nome e com o Espírito de Cristo, porque é Ele o Evangelho de Deus, é Ele a Misericórdia de Deus, é Ele a libertação de Deus, é Ele que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. O texto de Isaías, reforçado por pequenas adaptações introduzidas por Jesus, indica que o anúncio messiânico do Reino de Deus que veio ao nosso meio, se dirige de forma preferencial aos marginalizados, prisioneiros e oprimidos.
Provavelmente no tempo de Jesus estas pessoas não estavam no centro da comunidade de fé. E nos perguntamos: hoje, em nossas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos, somos fieis ao programa de Jesus? A evangelização dos pobres, levar-lhes a Boa Nova, é a prioridade? Atenção: não se trata de prestar assistência social e muito menos de atividade política. Trata-se de oferecer a força do Evangelho de Deus que converte os corações, cura novamente as feridas, transforma as relações humanas e sociais segundo a lógica do amor. Os pobres, de fato, estão no centro do Evangelho.
A Virgem Maria, Mãe dos evangelizadores, nos ajude a sentir com vigor a fome e a sede do Evangelho que existem no mundo, especialmente no coração e na carne dos pobres. Que ela ajude cada um de nós e toda comunidade cristã a testemunhar concretamente a misericórdia, a grande misericórdia, que Cristo nos doou.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Vivendo o Ano Santo da Misericórdia

As obras de misericórdia são 14. Sendo que, 7 são corporais e 7 espirituais
Este ano santo não é restritivo, mas  abre para todos os caminhos.O Papa estabeleceu que se um prisioneiro estiver na cela e passar pela sua cela num ato de reconciliação tem as indulgências. Se uma pessoa doente acompanhando pela TV daí meu empenho com os meios de comunicação “que não pode ir à igreja por doença ou por idade avançada e participar fielmente da celebração recebe indulgência.”


Estamos vivendo o Ano Santo, o Jubileu extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu este tema para nos aproximar mais de Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. A Quaresma, é   um tempo propício por excelência, para intensificarmos a vivencia desse amor misericordioso.
PrayerMuitos ainda têm dúvidas sobre o que significa indulgencia.  É a remissão da pena devida, dos pecados que já fomos perdoados. Sobre isso, escreveu o Papa Francisco: “No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanecem. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela se torna indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado” (Misericordiae Vultus, 22).
Em cada Diocese há nas catedrais e santuários a Porta Santa, pela qual os peregrinos podem passar para obter as indulgencias, desde que confessem, comunguem, façam uma reflexão sobre a misericórdia, acompanhem celebrações com a profissão de fé, façam oração pelo papa e para o bem da Igreja.
Também é desejo do Papa que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia, diz ele que todas as vezes que um fiel viver uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar.
As obras de misericórdia são 14. Sendo que, 7 são corporais e 7 espirituais. Por mais que já tratamos sobre elas em uma antiga edição, bem como no Livro “20 Passos para a Pz Interior”, vale a pena relembrá-las:
Obras de misericórdia corporais
1) Dar de comer a quem tem fome
Várias vezes, Nosso Senhor Jesus Cristo preocupou-se com a fome dos que O seguiam (Mc 6,30-44). É urgente e necessário que avancemos em políticas sociais que atinjam a causa da fome, mas enquanto não chegamos ao ideal, exercitemos a partilha para aplacar o sofrimento real. O que Nosso Senhor falou aos apóstolos, no passado “Dai-lhes vós mesmos de comer”(v.38) ecoa até hoje, e nos convida a refletir o que temos oferecido, para que, de maneira concreta minimizemos a fome daqueles que nada tem.
2) Dar de beber ao sedento
Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10,42).
O ato de dar um copo de água a um sedento pode parecer insignificante, mas é um gesto que em Jesus pode adquirir dimensões eternas.
Sabemos que água é vida, e, a médio e longo prazo, tende a ser um “tesouro” cada vez mais raro e precioso. Precisamos adotar o uso responsável da água, dessa forma, poderá chegar até quem necessita.
3) Vestir os nus
Jesus nos exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a). A nudez além de expor a pessoa às condições climáticas a despoja a da própria dignidade. Vestir o nu é um gesto que minimiza a humilhação. Precisamos praticar a partilha dos bens com atitude, intenção e real motivação.
4) Dar abrigo aos peregrinos
Tendo em vista que a realidade dos tempos de Jesus era muito diferente da realidade dos tempos atuais, torna-se complicado, perigoso e é até ingenuidade de nossa parte querer acolher em nossas casas, pedintes ou moradores de rua. Porém, Deus suscita obras de acolhimento na Igreja, através dos padres, religiosos (as), e leigos (as), que nos permite praticar esta obra de misericórdia, com nossa ajuda concreta.
5) Assistir os enfermos
Os Evangelhos relatam abundantemente, momentos em que Jesus acolhe, atende, socorre e cura os doentes. As  vezes eram levados a Ele no entardecer  (Mc 1,32-34); em outras pediam que Ele fosse até a casa do enfermo, como fez o oficial que pediu a cura do filho que estava morrendo (Jo, 4, 46-53). Vale lembrar a ação de Jesus, quando na casa de Pedro, cura sua sogra (Mt 8, 14-15). Jesus se desdobrou em misericórdia para com os doentes.
A obra de misericórdia na qual se assiste os doentes começa na família, quando se lida com doenças prolongadas e, as vezes irreversíveis. Trata-se também de trabalho voluntário em hospitais, casas terapêuticas e pastorais urbanas que assistem aos que vivem a dor da enfermidade na solidão e no esquecimento.
6) Socorrer os presidiários
“Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque… estava na prisão e viestes a mim” (Mt 25, 34.36b)
Hoje, o acesso aos presídios não é livre, havendo certo rigor na triagem de visitas aos presidiários. A Igreja se faz presente através da pela pastoral carcerária.  Esta obra de misericórdia também se estende aos seus familiares, por meio de auxílio financeiro e apoio emocional para superarem os preconceitos.
7) Enterrar os mortos
”Filho, derrama lágrimas sobre o morto, e chora como um homem que sofreu um rude golpe. Sepulta o seu corpo segundo o costume, e não desprezes a sua sepultura”. (Eclo 38,16)
Cada pessoa é templo do Espírito Santo e, mesmo depois de morta, seu corpo merece respeito. A Igreja permite a cremação do corpo, desde que não seja um ato que se faça numa manifestação de contrariedade à fé na ressurreição dos mortos (cf. CIC § 2301). Bem como a doação gratuita de órgãos quando desejado pela própria pessoa.
Obras de misericórdia espirituais
1) Aconselhar (Dar bons conselhos aos que necessitam)
Dar bons conselhos significa orientar e ajudar a quem precisa. Para isso, é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo, a fim de perceber os sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão e no discernimento dos fatos.
2) Instruir (Ensinar os que não sabem)
Instruir não é simplesmente transmitir conhecimentos, mas também corrigir os que erram, ensinando-lhes os valores do Evangelho e formando-os na doutrina e nos bons costumes éticos e morais.
3) Corrigir os que erram
Esta obra de misericórdia nos lembra que, antes de qualquer julgamento e condenação, nossa atitude deve ser de corrigir na fraternidade aqueles que estão no erro.
O Apóstolo Paulo cita a correção como um gesto de maturidade na fé «Vós sois capazes de vos corrigirdes uns aos outros» (Rm 15,14).  Deus, como um Pai amoroso nos corrige, para nosso próprio bem. Quando recebemos a correção nos entristecemos, porem depois ela produz frutos de paz e justiça ((cf. Hb 12,10-11).
4) Consolar (aliviar o sofrimento dos aflitos)
Consolar consiste numa presença afetuosa, nas palavras de encorajamento e de proximidade. Consolar com o consolo que vem de Deus, Ele é o nosso consolador, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação (cf. 2Cor 1,3-4).
Na prática, essa obra concretiza-se por meio das seguintes atitudes: exercitar os olhos para as tragédias alheias; aguçar os ouvidos para escutar os soluços dos que sofrem; oferecer o ombro para deixar reclinar-se sobre ele quem chora; estender a mão para levantar quem tropeça e cai, significa estar incondicionalmente ao lado de quem necessita.
5) Perdoar (Superar as ofensas de boa vontade)
“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não lhe digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Ao dizer isto Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina que devemos perdoar sempre e sem limites. Para não cometermos um ato de injustiça com Deus, conosco e com nossos irmãos, devemos sempre, à luz do Espírito Santo, exercitar e aprimorar o perdão.
O perdão não elimina o mal sofrido, mas renova a relação entre ofensor e ofendido. Perdoar não quer dizer esquecer, o ato sofrido, mas lembra-lo sem sofrer, sem raiva ou ressentimento.
6) Suportar com Paciência (Lidar com as fraquezas do próximo)
“Sejam humildes, amáveis, pacientes e suportem-se uns aos outros no amor” (Ef 4,2)
Esta obra espiritual recomenda que suportemos com paciência os que estão próximos a nós, com todas as suas limitações, fraquezas, falhas, adversidades e misérias. Sejamos pois, acolhedores e pacientes com todos.
7) Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos
Devemos rezar pelas pessoas que amamos, pelas que se recomendaram a nossa oração e por aquelas que temos obrigação de rezar.
Também exercitar esta obra de misericórdia rezando pelos mortos.
As almas merecem a lembrança e as orações dos seus, e que as ajudem a alcançar o repouso eterno, o refrigério e a luz que não se apaga. Ao socorrer com oração as almas do purgatório, praticamos a caridade em toda a sua extensão.
Filhos e filhas é uma benção podermos viver este Ano Santo da Misericórdia, quando  temos a  oportunidade de expiar a pena pelos nossos pecados.  Acredito que este Ano Santo  é para aqueles que já estão na igreja., mas principalmente para os que estão fora dela.  É para manter os que estão e buscar os que ainda não receberam a mensagem e não conhecem o rosto do Pai, revelado em Jesus.
Padre Reginaldo Manzotti é fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso – Obra considerada benfeitora nacional que objetiva a evangelização pelos meios de comunicação – e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV que são retransmitidos e exibidos em parceria com milhares de emissoras no país e algumas no exterior. Site: www.padrereginaldomanzotti.org.br. Facebook: www.facebook.com/padrereginaldomanzotti. Twitter: @padremanzotti | Instagram: @padremanzotti

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