03 -Como melhorar a Pregação Sagrada
Hoje falaremos de alguns
conselhos práticos que podem ajudar o Pregador Sagrado na sua missão:
Compreender o seu público, ou seja, aquelas pessoas a quem vamos pregar. Conhecer a
idiossincrasia destas pessoas, suas qualidades, suas fraquezas, seus problemas,
seu modo de ser. A Igreja chama isso de “inculturação”. Um espanhol e um
brasileiro não são iguais; nem um francês e um americano, um alemão e um
africano… É necessário falar com a linguagem das diversas culturas, fazer-nos
tudo a todos para ganhá-los para Cristo, como São Paulo (cf. 1 Cor 9, 20-22).
Não podemos ir à América Latina com categorias europeias. Simplesmente não nos
entenderão! Ou pior ainda, nos recusarão! “Amanhã te escutaremos” parafraseando
Atos 17, 32.
Preparar bem cada pregação, sem improvisar, deixando tudo para a última hora. A
pregação não é algo que fazemos a título pessoal. Não! Pregamos em nome da
Igreja. É a Igreja que, nesse momento explica a Palavra de Deus, através do
pregador sagrado. Portanto, preparar a pregação a partir da oração pessoal. Mas
também lendo comentários dos Papas, de autores espirituais bem sólidos e
provados, sobre esses textos litúrgicos ou sobre esse tema do qual pregaremos.
Os melhores comentários que existem sobre os evangelhos são OS SANTOS PADRES.
Temos que ler muito os Santos Padres. São sempre atuais. São um verdadeiro
tesouro a ser descoberto ainda. É como subir-se em ombros de gigantes. Um
exemplo disso é o Papa Bento XVI. É por isso que as suas pregações são tão
profundas, embora simples.
Ser ordenado e estruturado nas
ideias da pregação: hoje temos que
transmitir somente uma ideia na homilia ou na palestra, e desenvolver essa
ideia em dois ou três aspectos bem travados e unidos. Mas somente uma ideia. Só
então é que o ouvinte sairá com uma ideia bem aprendida e tentará vivê-la no
seu dia a dia. Das três leituras dominicais pode-se tirar perfeitamente uma só
ideia, desenvolvida em dois ou três aspectos. Por exemplo, uma homilia com a
liturgia de um domingo: Deus nos convida à conversão (única ideia, tirada do
evangelho); essa conversão supõe reconhecer-nos pecadores (primeiro aspecto
dessa única ideia, tirada talvez da primeira leitura dominical ou do salmo
responsorial); essa conversão trará como efeito a paz interior e a reconciliação
com Deus (segundo aspecto dessa única ideia, tirada talvez da segunda leitura
dominical). E os dois aspectos devem estar apoiados nos textos litúrgicos
lidos. Uma só ideia! Quem fala de muitas ideias só consegue dispersar o ouvinte
e não deixará nada claro e nem concreto. Quem diz muitas ideias está
manifestando que não preparou profundamente a sua pregação. Provoca uma
autêntica indigestão espiritual nos que escutam.
Ser criativo ao expor a ideia: essa ideia tem que ser apresentada com alguma metáfora, imagem,
novidade, um fato ou anedota… Só assim ficam mais facilmente gravadas na alma
do ouvinte, pois aparecerá como novidade e originalidade. Nisso o cardeal
vietnamita Van Thuan, que Deus o tenha, era modelo. Não ser chatos com ideias
já usadas e sem originalidade. É preciso ser atraentes e incisivos. Isso não se
consegue com excentricidades ou com continhos e nem fazendo rir. Não! Isso se
consegue tendo meditado muito e com profundidade na Palavra de Deus. E
observando muito a vida humana.
Distinguir o modelo de pregação que me é pedido e o lugar onde se
dá a pregação: primeiro, distinguir que tipo de pregação devemos dar, pois uma
coisa é pregar uma homilia, outra uma reflexão numa hora santa com Cristo
Eucaristia exposto; uma coisa é uma palestra aberta num auditório, outra é uma
meditação num retiro; uma coisa é dar uma conferência a jovens e outra pregar a
adultos ou a crianças ou a sacerdotes. E o lugar: porque uma coisa é pregar na
capela, outra coisa é pregar num salão de estar ou num estádio ou numa fábrica.
Tudo isso deve ser levado em conta na hora da pregação.
Sempre ser expressivo: sem forçar o próprio temperamento, não querendo ser aquele
que é mais apaixonado e dinâmico… mas é preciso ser expressivo. Lembre-se dos
três elementos de toda a pregação: idéias de fundo, forma concreta dessas
ideias e expressão (velocidade e temperatura oratória) destas idéias.
É necessário combinar os três elementos para que a pregação seja perfeita. Todo
o nosso ser deve ser expressivo: voz, gestos, mãos, corpo, olhos, sentimentos,
emoções, silêncio, questionamentos e perguntas diretas… Não devemos ser
tímidos, nem ter medo de falar, nem falar com voz apagada ou monótona, ou em
abstrato ou sem olhar para o auditório. Se fizermos isso o povo dorme. As
pessoas vão odiar a nossas pregações, em vez de gozar com a pregação sagrada.
Fides ex auditu, nos fala São Paulo, “a fé entre pelo ouvido” (Rm 10, 17).
Pregar a todo homem e ao homem todo: a todo homem: à criança, ao adulto, ao
ancião, ao enfermo, ao que sofre, ao ignorante e ao simples, ao complicado e
questionador… e a todo o homem: inteligência, sentimentos,
afetos, coração, vontade… E a Palavra de Deus pregada tem que “tocar” a
existência humana em todos os campos: pessoal, familiar, laboral, profissional,
religioso… Por isso, o pregador buscará aplicar essa Palavra de Deus e “fazê-la
caminhar” pelos meandros da vida dou ouvinte. O ouvinte durante a pregação
deveria dizer: “Isso! É isso que eu preciso, encaixa perfeitamente o que fala
esse pregador”. É assim que o ouvinte se deixará transformar por essa Palavra
de Deus que o pregador soube baixar para a vida deles concretamente. E com
certeza vamos ter essa pessoa em todas as nossas pregações porque nos entende e
entende que a Palavra de Deus explicada é muito atual para a sua vida, e não
algo do passado ou de museu.
Ser simples, respeitoso e positivo
ao pregar: não insistir tanto no
que está mal. Apresente mais o bem que por si só atrai. Não estamos no século
de certa apologética agressiva, inflexível, rigorosa e um pouco arrogante. Hoje
temos de conquistar as pessoas com a bondade, com a simplicidade, com o encanto
e a gota de mel. Isso não significa que não devemos dizer a verdade. É
necessário apresentá-la, mas com bondade e respeito, para que atraia. Quando
seja preciso falar algo forte, duro e negativo (p.e. os que vivem juntados ou
divorciados e casados em segunda união não podem e nem devem comungar, etc…), é
necessário falar em terceira pessoa e nunca interpelar a pessoa em questão. Não
dizer: “Você que está juntado… não deve comungar”. Seria muito ofensivo. É
melhor dizer: “Quem se encontra nessa situação não deveria se aproximar da
comunhão porque…”. E quando se trata de algo positivo, então sim, interpelar em
segunda pessoa: “Que bom que você foi generoso e fiel! Deus será também com
você”.
Sentir com a Igreja em tudo o que
ela se propôs para este ano: se
é o ano sacerdotal, não deveria ter nenhuma pregação durante o ano que não
tivesse alguma menção sobre essa circunstância… se é o ano paulino, o mesmo. Ou
o ano dedicado a Jesus Cristo (1997), ou ao Espírito Santo (1998), ou a Deus
Pai (1999), ou o ano da Eucaristia (2000). Ou o ano da fé (2013) ou o ano da misericordia, no qual estamos
agora. Não se pode caminhar em paralelo com a Igreja. Os tríduos desse ano e os
exercícios espirituais e os retiros, as homilias deveriam estar focadas e
marcadas por essa circunstância eclesial. Isso é parte do “sentire cum
Ecclesia”. Devemos ir ao passo da Igreja. Também nisso.
Destacar com frequência nas
pregações aspectos e virtudes dos santos: os
santos são nossos irmãos que já conseguiram o que nós estamos procurando: a
santidade de vida. Eles nos dão exemplo e nos dizem quais aspectos são
necessários praticar para agradar a Deus, crescer nas virtudes e alcançar a
salvação eterna, que é a graça das graças. Quanto são edificantes as anedotas
dos santos! Compre livros de santos e leia-os. E assim você vai colocar nas
pregações exemplos maravilhosos e edificantes dos santos nos temas que estará
tratando na pregação.
Conclusão: Espero que esses
conselhos sirvam para que a sua pregação seja a cada dia de qualidade, para a
glória de Deus e a salvação das almas. Isso é o que me tem ajudado. Não sei se
lhes ajudará, pois todos somos diferentes.