O Blog CMliturgo (diac. Carlos Ericeira), visando um maior aprofundamento e conhecimentos dos documentos da Igreja, traz aos irmãos um trabalho desenvolvido pela Arquidiocese de Campinas. Colabore fazendo a transmissão deste conhecimento, promova encontros de estudo,acompanhe o cronograma das atividades do blog e a edição das próximas Fichas de Estudos do DOC. 104 da CNBB. Agora editamos a ficha 3 e em breve para concluir colocaremos a 4ª ficha não esqueça de interagir, pois:
Estou aguardando o seu comentário!
FICHA DE ESTUDO III
COMUNIDADE DE COMUNIDADES:
UMA NOVA PARÓQUIA (III)
Novos
Contextos: Desafios à Paróquia
O segundo capítulo das DGAE, “Marcas do nosso tempo”,
indica que, enquanto a sociedade acentuou o individualismo, o relativismo
cultural, o fundamentalismo, o consumismo, a exclusão social, a desagregação
familiar, a violência etc., que comprometem a dignidade e os valores humanos,
muitas paróquias e comunidades, apesar de promoverem várias atividades
pastorais, não se empenham para assumir a missão que exige o Evangelho. Neste
modelo de paróquia predominam as práticas pastorais tradicionais que se resumem
na oferta de serviços religiosos aos
fiéis que vêm procurar a Igreja, dando origem à expressão
‘pastoral de manutenção’, pois, continuam fazendo tudo como sempre fizeram,
apesar das mudanças sociais. Não obstante, há comunidades e paróquias dinâmicas
e missionárias que estão buscando formas de ser Igreja viva e atuante,
promovendo o envolvimento de todos, sendo solidária, onde predomina a
eclesiologia de comunhão e a participação. Apesar disso, se constata que, mesmo
nestas comunidades, a estrutura paroquial ainda não consegue responder às
exigências do tempo moderno, e isto reclama mudanças que não são fáceis de
serem implantadas, mas que são extremamente necessárias.
Neste capítulo, o Estudo 104, aponta para três âmbitos ou
realidades que a Igreja precisa considerar em sua ação Evangelizadora: a
pessoa, a comunidade e a sociedade, os quais, por sua vez, exigem a renovação
paroquial.
1.
Desafios no âmbito da Pessoa
Um dos maiores desafios eclesiais, na atualidade, é o
individualismo, o qual atinge também as comunidades cristãs. Grande é o número
de católicos que nutrem uma concepção espiritual individualista, subjetivista,
intimista e vertical, que dispensa a experiência comunitária, que é a base
fundante da Igreja. Este intimismo religioso desvincula a pessoa do grupo
social, privando-a do convívio com outras pessoas, o que por sua vez contribui
para uma cultura da solidão em que cada pessoa se basta ou, no máximo, busca os
que lhe são afins. Nesta concepção, o outro, enquanto diferente, de outra
cultura, é visto como concorrente e/ou um empecilho para o sucesso/felicidade
pessoal. Esta mentalidade individualista também atinge a família, a primeira
célula social e eclesial, que se vê questionada na sua função de transmissão e
manutenção dos valores sociais. A busca pelos bens de consumo e pela suposta
qualidade de vida tem diminuído o 2
número de filhos, especialmente nos casos de filhos
únicos, que ‘educados’ sozinhos e sem referência social podem se tornar
extremamente egoístas e individualistas. Cabe à Igreja recuperar a ideia da
comunidade como espaço de acolhida daqueles que se sentem jogados à margem.
Acolher a pessoa é o mandamento de Jesus.
2.
Desafios no âmbito da comunidade
Os novos contextos sociais da modernidade colocam os
seguintes desafios à comunidade: a territorialidade, as estruturas obsoletas na
pastoral, o relativismo e o fundamentalismo.
a) A nova territorialidade. As grandes cidades, os
diversos meios de comunicação e interesses sociais fizeram surgir novas formas
de articulação social. Também na Igreja, a paróquia ou a comunidade sempre
foram vistas como espaços geográficos, onde cada pessoa se vinculava à comunidade
ou paróquia do seu bairro ou região. Com os novos contextos sociais, o espaço
paroquial deixou de ser a única possibilidade de pertença eclesial para dar
lugar a novas formas de grupos onde acontece a experiência do encontro com
Jesus, mediatizada pela comunidade eclesial na vivência fraterna. Assim, se
fala de uma nova definição de comunidade, que alguns chamam de ambiental, onde
se constrói novos vínculos afetivos e religiosos.
b) Estruturas obsoletas na pastoral. A realidade urbana
pede a revitalização e renovação das estruturas. O anonimato imposto às pessoas
nas grandes cidades exige da Igreja a acolhida aos fiéis. A Igreja é a casa de
Deus e do seu povo. Ela é lugar de encontro dos irmãos, que assumem o cuidado
dos menores e dos que sofrem. O Papa Francisco insiste que a Igreja não é uma
ONG ou um organismo assistencial, mas um lugar de encontro dos que professam
fé. Os ministros, padres
e os coordenadores das comunidades, não são
administradores de patrimônio e das finanças, mas animadores da vida
comunitária. Portanto, renovar as estruturas, implica em perceber que as
pessoas não buscam a Igreja apenas para os sacramentos e os serviços pastorais.
Elas são como ovelhas errantes que precisam ser cuidadas e curadas. Suas almas
estão machucadas, doentes, sozinhas e violentadas. As reformas nas estruturas
precisam atingir a vida da comunidade a ponto de renová-la interiormente, e não
apenas como se mudasse a cor das paredes da Igreja.
c) Entre o relativismo e o fundamentalismo. O terceiro
desafio da comunidade está em duas posições antagônicas na sociedade, as quais
também se fazem presente na comunidade eclesial: o relativismo e o
fundamentalismo. Ambos derivam do individualismo, sendo expressões do egoísmo.
O primeiro esvazia todo absolutismo, mas, ao mesmo tempo, torna tudo fluído e
sem consistência, onde tudo pode, tudo é certo, tudo é decidido pela
consciência pessoal que se torna o único critério de decisão. Na vida de
comunidade, isto provoca o desenraizamento e o fechamento em relação aos
valores comunitários, à doutrina e dogmas de fé. Inexiste o compromisso ético
que deriva do apelo do Evangelho. O segundo, absolutiza determinadas práticas e
posicionamentos em nome de uma pretensa fidelidade à religião, mas que na
verdade, são posições extremamente excludentes, pois não aceita quem pensa
diferente. Defendem-se modelos eclesiais como se fossem ideologias,
esquecendo-se de que a Igreja, sendo comunhão de diferentes, deve ter como
fundamento apenas o Evangelho de Jesus.
3. Desafios no
âmbito da Sociedade.
O terceiro âmbito que exige a renovação da Igreja são os
desafios presentes na Sociedade. A Igreja é um organismo vivo da sociedade e
seus membros são chamados a dar as razões da fé (1Pe 3,15).
a) Sociedade pós-cristã. Se os princípios modernos
definiram a secularização dos Estados, também é verdade que os cristãos não
podem se omitir de participar da vida pública. O Vaticano II definiu na LG, que
o Povo de Deus tem a vocação de defender a vida e a dignidade humana em função
da fé em Jesus Cristo. Dizer não ao individualismo, ao materialismo, ao
consumismo da sociedade é imperativo da fé, e as comunidades e paróquias devem
promover tais valores. Em todo ser humano há uma busca pela razão da vida, e
isto deve ser valorizado.
b) O pluralismo cultural. A sociedade moderna enaltece as
diferentes formas de se viver e pensar. Mas a abertura ao pluralismo não pode
ser identificada como indiferença à diversidade. O indiferentismo, como fruto
do individualismo, não pode ter a última palavra. Diante desta realidade de
anti-reino, a Igreja, que deseja ser presença servidora e solidária, deve se
renovar como sinal de constante conversão pastoral ao Evangelho.
4. A Urgência da renovação paroquial. A paróquia é uma
realidade eclesial e a Conferência de Aparecida a vê como uma importante célula
eclesial. A renovação proposta deve ser vista em função dos apelos do Evangelho
de Jesus. Há desafios sociais que pedem uma tomada de posição sociopolítica da
comunidade dos cristãos. A vida precisa ser defendida. As grandes cidades
desafiam a Igreja, principalmente nas periferias, os aglomerados urbanos exigem
criatividade missionária de ir ao encontro do povo que precisa ser
evangelizado. De outro lado, há anos, a Igreja identifica vários sinais que
revelam a necessidade da renovação: a diminuição de católicos, a existência de
muitas comunidades sem eucaristia, a redução de pessoas que buscam os
sacramentos, as poucas crismas e a falta de vocações para a vida presbiteral e
religiosa. Em muitas comunidades e paróquias parece haver um esfriamento na fé,
há uma crise do sentimento de pertença à comunidade e no engajamento na
paróquia.
Os novos contextos provocam a Igreja. Identificam-se
desafios externos e internos. De fora, os ventos são de individualismo,
relativismo, fundamentalismo, do pluralismo e das mudanças familiares. De
dentro, é desafiada a pôr em prática a conversão pastoral, a ultrapassar a
territorialidade e a romper as estruturas obsoletas da evangelização,
abandonando a mera pastoral de manutenção e implantando uma pastoral realmente
missionária. Este capítulo propõe uma profunda reflexão por conta dos desafios
deste mundo em mudança, e de limitações internas e resistências a modelos de
paróquias, que já não são mais adequados para este tempo, por isso oportunidade
de conscientização, ação e transformação em vista de uma renovação. Eis a
razões pelas quais as estruturas eclesiais e, especialmente, as paroquiais
precisam ser renovadas.
Esta ficha foi publicada três dias depois da publicação
oficial da Exortação Apostólica Evangelli Gaudium. Trata-se de um belo texto
que destaca a alegria como característica fundamental da Evangelização. É um
programa pastoral para a Igreja que deseja ser presença de Cristo no mundo.
Sugerimos a leitura, especialmente o capitulo 1 - A Transformação Missionária
da Igreja.
Para Refletir:
1) Qual dos três âmbitos da Evangelização você julga mais
desafiador e por quê?
2) Que mudanças você considera necessárias ou mais
importantes para a renovação das paróquias?
3) Como viver a proposta cristã no âmbito pessoal,
comunitário e social?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para anpliar nossa comunicação estamos permitindo os comentários de todos que acessam esta pagina, porém, só editaremos se estes se identificarem.