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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA (II)

 O Blog CMliturgo (diac. Carlos Ericeira), visando um maior aprofundamento e conhecimentos dos documentos da Igreja, traz aos irmãos um trabalho desenvolvido pela Arquidiocese de Campinas.  Colabore fazendo a transmissão deste conhecimento, promova encontros de estudo,acompanhe o cronograma das atividades do blog e a edição das próximas Fichas de Estudos do DOC. 104 da CNBB. Esta é a 2ª ficha que reflete a perspectiva teológica, para completar este estudo ainda seráo editadas mais 2 fichas.  
Estou aguardando o seu comentário!          



FICHA DE ESTUDO II

COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA (II)


Perspectiva Teológica


A abordagem desta Ficha recai sobre o Capítulo 2: Perspectiva Teológica, do Estudo 104 da CNBB - “Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia”, que apresenta as concepções teológicas sobre a comunidade e a paróquia. A ideia principal é resgatar a noção eclesiológica da “Domus Eclesiae” (Igreja Doméstica) dos tempos apostólicos, onde os cristãos se reuniam para professar a fé, ouvindo e celebrando a Palavra, vivendo a caridade e orando, a partir dos ensinamentos de Jesus.

1. A Igreja Doméstica: No cristianismo nascente, os discípulos se reuniam nas casas daqueles que os acolhiam para a partilha da palavra e fração do pão, formando as primeiras comunidades cristãs. Paulo, em sua peregrinação no Mediterrâneo, formou comunidades cristãs que ele designou de Igrejas Domésticas. Não eram identificadas pelo prédio ‘igreja’ - como espaço para o culto - tal qual hoje conhecemos, mas pela existência de grupos de cristãos que viviam relações
interpessoais da comunhão de fé.

2. O surgimento das paróquias: Com a centralização das lideranças em Roma e o crescimento do número de cristãos, a Igreja Doméstica foi sendo substituída por assembleias cada vez mais numerosas e anônimas, que celebravam o culto em lugares específicos para esta finalidade. O reconhecimento do cristianismo como religião oficial, no século IV, fez com que a Diocese e o Bispo se tornassem as principais referências eclesiais e responsáveis pela expansão das comunidades dirigidas pelos Presbíteros, numa estrutura organizacional muito semelhante a que
conhecemos hoje como Paróquia. Durante a Idade Média, predominaram as catedrais, as igrejas ligadas aos mosteiros e as pequenas igrejas dos vilarejos nas quais aconteciam as funções religiosas, e a missão se caracterizava, essencialmente, na construção de novas igrejas para reunir os cristãos. O Concílio de Trento (séc. XVI) determinou a ereção de novas Paróquias para atender ao crescimento populacional, segundo o principio da territorialidade, modelo que, substancialmente, ainda subsiste, e, no período que antecede a era industrial, a Paróquia abarcava a sociedade local como comunidade territorial, para atender as famílias. No Código de Direito Canônico (CDC) de 1917, a Paróquia é definida como a menor circunscrição local, pastoral e administrativa, porém, no novo CDC (1983), ela é a comunidade de fiéis, constituída de maneira estável e confiada a um Pároco, como seu pastor.

3. A paróquia no Concilio Vaticano II: Embora este Concílio não tenha produzido nenhum texto específico sobre a Paróquia, ele traz uma importante colocação a partir da Lumen Gentium, sobre ‘A Igreja Particular’ que explicita o seguinte: “Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis, que unidas com seus pastores, são também elas, no Novo Testamento, chamadas de igrejas”.
A Igreja Particular se caracteriza como porção do Povo de Deus, e é formada pela interligação das paróquias que a compõem, as quais são consideradas ‘células da diocese’. No Brasil, como uma nova forma de organização eclesial, surgiram pequenas comunidades ligadas a uma determinada paróquia, as quais, entendidas no horizonte da comunhão, todos os que nelas participam fazem a experiência de ser Igreja com multiplicidade de dons, de carismas e de ministério, e possuem  força profética num mundo marcado pelo individualismo. Esta comunhão deve ser a característica principal de todas as formas de organização da vida eclesial. Quando se propõe uma nova paróquia como comunidade de comunidades, mais do que criar novas estruturas, trata-se de recuperar as relações interpessoais e de comunhão como meio de pertença eclesial. Neste sentido, o Concílio Vaticano II aponta para três direções quanto ao modelo vigente de Paróquia: a passagem do territorial para o comunitário; do princípio único do pároco para uma comunidade
toda ministerial; e da dimensão cultual para a totalidade das dimensões da comunhão e da missão da Igreja no mundo.

4. A Renovação paroquial na América Latina e no Caribe: Na América Latina, desde Medellín, passando por Puebla e Santo Domingo, o magistério confirmou a tradição paroquial, recomendando a sua renovação: A paróquia não é território, nem estrutura, nem edifício, mas é a família de Deus... que acolhe as angústias e esperanças, anima e orienta a comunhão, a participação e a missão, como Igreja inserida na sociedade e solidária com suas aspirações e dificuldades. Ela deve evangelizar, celebrar, fomentar a promoção humana e fazer progredir a inculturação da fé, e ser uma rede de comunidades. Aparecida destaca a multiplicação das comunidades e intensificação da pastoral urbana, e ressalta a contribuição das CEBs. Afirma que não há comunidade com multidões anônimas na Paróquia, daí a necessidade dela se tornar comunidade de comunidades, lugar privilegiado onde a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e da comunhão eclesial. As comunidades paroquiais são casas e escolas de comunhão e devem ser um todo orgânico que envolve os diversos aspectos da vida, pois como vimos nas DGAE, as paróquias têm um importante papel na vivência da fé para a maioria dos fiéis (Fichas: 46, 47, 48, 49, 50, 51).

5. A Paróquia como Casa: Para propor a reflexão sobre a renovação da paróquia, como comunidade de comunidades, o Estudo 104 resgata a imagem da ‘Igreja como Casa’, onde as pessoas se encontram em comunidade, num ambiente de vida e aconchego que garante o referencial para o cristão encontrar-se no lar e prosseguir na estrada de Jesus, e com Ele se deter na casa dos amigos. Hoje há uma situação de desamparo, falta de pertença e deserto espiritual, que reclama uma casa de acolhida. Por isso, a necessidade da Paróquia ser essa casa, onde se
ouve a convocação para que todos sejam um e vivam como irmãos na família de Deus. Esse é um desafio da Igreja, de recuperar esta fraternidade das casas, pois relações que não formam  vínculos, não criam sentimento de pertença.
A Paróquia, como Casa da Palavra e do discípulo que a acolhe e pratica, é a Igreja que se define pelo acolhimento do Verbo que colocou a sua tenda entre os homens. Porém, a Palavra não deve estar presente apenas na Celebração Eucarística, mas em todo o agir eclesial, principalmente, como fonte de conhecimento da História da Salvação que precisa ser ensinada a todo povo de Deus. Portanto, é na Casa da Palavra que o estudo, a formação e a oração devem ocupar também lugar de destaque.
A Igreja, como Casa do Pão, atrai os que têm fome, e é o lugar onde os cristãos se nutrem com a Eucaristia, estabelecem as novas relações que o Evangelho propõe. É fonte da vocação e do seu impulso missionário que leva a Paróquia a concretizar o seu compromisso social pela caridade.
Deus fez a sua morada entre os homens; nasceu em Belém, a “casa do pão”; peregrinou pela Galileia e Judeia; providenciou a Palavra e o Alimento para os cansados e abatidos. Assim, também, deve ser a Igreja, onde a comunidade vive da Eucaristia que a une pelo Espírito Santo, em Cristo, para chegar ao Pai.
A Igreja, como Casa da caridade (ágape), é onde na Palavra e na Eucaristia, o cristão vive o amor como ágape na relação com Deus. A amizade é o paradigma de todo relacionamento de Jesus com os discípulos, e de Deus com a humanidade. Diante do pecado, Deus não se torna inimigo, mas se revela como o Deus-Conosco, o Emanuel, que, em Jesus Cristo, se faz amigo e irmão. A Igreja é a comunidade santa porque nela se vive o amor. Deus oferece aos homens, a filiação adotiva em Cristo, chamando-os à santidade, que é a vida de união com Ele, com os irmãos e as irmãs, e a criação. A amizade se refere ao amor e torna-se expressão do ágape, o centro do amor cristão. Quando Deus convoca a humanidade para derrubar as barreiras que impedem a fraternidade, esta amizade, amor ágape, é traduzida em compaixão pelos que sofrem.

6. A Paróquia Hoje: A Paróquia é importante para a construção da identidade cristã, e é o lugar onde o cristianismo se torna visível na cultura e na história. Ela está desafiada a se renovar diante das aceleradas mudanças, inserindo a revisão da ação pastoral de modo geral, em vista da urgência de uma nova evangelização.
É preciso compreender duas noções de Paróquia: como casa de acolhida e como comunidade que é lar dos cristãos onde se faz a experiência de seguir Jesus. Como acolhimento, ela é o espaço para receber pessoas com suas buscas e vivências, que pretendem seguir o caminho. E enquanto espaço da comunidade, ela reúne esses cristãos em grupos comprometidos a viverem o evangelho em comunidade, a partir da fé, em profunda comunhão com Deus e entre si, numa verdadeira comunhão eclesial que encontra a sua expressão mais imediata e visível na Paróquia. Embora, por vezes, pobre em pessoas e em meios, e outras vezes dispersa em territórios vastíssimos ou quase desaparecida no meio de bairros modernos, populosos e caóticos, a Paróquia é, sobretudo, a família de Deus, o próprio mistério da Igreja presente e operante nela.
Teologicamente, o fundamento da Paróquia é ser uma comunidade eucarística que celebra a presença de Cristo, Palavra e Eucaristia, estabelecendo os vínculos de comunhão entre os seus fiéis, e remete todos à missão de testemunhar na caridade a verdade professada. Assim, a nova Paróquia, descrita no Estudo 104 da CNBB, é aquela que se abre aos desafios do século XXI assumindo, como modelo, a ação de Jesus Cristo: proclamar o ano da graça do Senhor (Lc 4,18-19).

Para Refletir:
1.    Na vivência comunitária atual, vivemos realmente a proposta cristã original? Qual é a sua realidade?
2.    Como a proposta de pequenas comunidades, com ativa participação ministerial dos cristãos leigos pode ser uma boa perspectiva de renovação paroquial?
3.       De que modo nós, cristãos do terceiro milênio, podemos, a partir da comunidade de comunidades, fazer florescer, de fato, a tão sonhada comunhão?


3.


FONTE: avf@arquidiocesecampinas.com  - O texto das fichas de estudo está publicado no site: Ambiente Virtual de Formação: Igreja em Rede http://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/comunidade-de-comunidades-uma-nova-paroquia-i-perspectiva-biblica onde você poderá fazer o download em PDF.

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