O Blog CMliturgo (diac. Carlos Ericeira), visando um maior aprofundamento e conhecimentos dos documentos da Igreja, traz aos irmãos um trabalho desenvolvido pela Arquidiocese de Campinas. Colabore fazendo a transmissão deste conhecimento, promova encontros de estudo,acompanhe o cronograma das atividades do blog e a edição das próximas Fichas de Estudos do DOC. 104 da CNBB. Esta é a 2ª ficha que reflete a perspectiva teológica, para completar este estudo ainda seráo editadas mais 2 fichas.
Estou aguardando o seu comentário!
FICHA DE ESTUDO II
COMUNIDADE DE COMUNIDADES:
UMA NOVA PARÓQUIA (II)
Perspectiva
Teológica
A abordagem desta Ficha recai sobre o Capítulo 2:
Perspectiva Teológica, do Estudo 104 da CNBB - “Comunidade de Comunidades: Uma
nova Paróquia”, que apresenta as concepções teológicas sobre a comunidade e a
paróquia. A ideia principal é resgatar a noção eclesiológica da “Domus
Eclesiae” (Igreja Doméstica) dos tempos apostólicos, onde os cristãos se
reuniam para professar a fé, ouvindo e celebrando a Palavra, vivendo a caridade
e orando, a partir dos ensinamentos de Jesus.
1. A Igreja
Doméstica: No cristianismo nascente, os
discípulos se reuniam nas casas daqueles que os acolhiam para a partilha da
palavra e fração do pão, formando as primeiras comunidades cristãs. Paulo, em
sua peregrinação no Mediterrâneo, formou comunidades cristãs que ele designou
de Igrejas Domésticas. Não eram identificadas pelo prédio ‘igreja’ - como
espaço para o culto - tal qual hoje conhecemos, mas pela existência de grupos
de cristãos que viviam relações
interpessoais da comunhão de fé.
2. O
surgimento das paróquias: Com a centralização
das lideranças em Roma e o crescimento do número de cristãos, a Igreja
Doméstica foi sendo substituída por assembleias cada vez mais numerosas e
anônimas, que celebravam o culto em lugares específicos para esta finalidade. O
reconhecimento do cristianismo como religião oficial, no século IV, fez com que
a Diocese e o Bispo se tornassem as principais referências eclesiais e
responsáveis pela expansão das comunidades dirigidas pelos Presbíteros, numa
estrutura organizacional muito semelhante a que
conhecemos hoje como Paróquia. Durante a Idade Média,
predominaram as catedrais, as igrejas ligadas aos mosteiros e as pequenas
igrejas dos vilarejos nas quais aconteciam as funções religiosas, e a missão se
caracterizava, essencialmente, na construção de novas igrejas para reunir os
cristãos. O Concílio de Trento (séc. XVI) determinou a ereção de novas
Paróquias para atender ao crescimento populacional, segundo o principio da
territorialidade, modelo que, substancialmente, ainda subsiste, e, no período que
antecede a era industrial, a Paróquia abarcava a sociedade local como
comunidade territorial, para atender as famílias. No Código de Direito Canônico
(CDC) de 1917, a Paróquia é definida como a menor circunscrição local, pastoral
e administrativa, porém, no novo CDC (1983), ela é a comunidade de fiéis,
constituída de maneira estável e confiada a um Pároco, como seu pastor.
3. A paróquia
no Concilio Vaticano II: Embora este
Concílio não tenha produzido nenhum texto específico sobre a Paróquia, ele traz
uma importante colocação a partir da Lumen Gentium, sobre ‘A Igreja Particular’
que explicita o seguinte: “Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente
em todas as legítimas comunidades locais de fiéis, que unidas com seus
pastores, são também elas, no Novo Testamento, chamadas de igrejas”.
A Igreja Particular se caracteriza como porção do Povo de
Deus, e é formada pela interligação das paróquias que a compõem, as quais são
consideradas ‘células da diocese’. No Brasil, como uma nova forma de
organização eclesial, surgiram pequenas comunidades ligadas a uma determinada paróquia,
as quais, entendidas no horizonte da comunhão, todos os que nelas participam
fazem a experiência de ser Igreja com multiplicidade de dons, de carismas e de
ministério, e possuem força profética
num mundo marcado pelo individualismo. Esta comunhão deve ser a característica
principal de todas as formas de organização da vida eclesial. Quando se propõe
uma nova paróquia como comunidade de comunidades, mais do que criar novas
estruturas, trata-se de recuperar as relações interpessoais e de comunhão como
meio de pertença eclesial. Neste sentido, o Concílio Vaticano II aponta para
três direções quanto ao modelo vigente de Paróquia: a passagem do territorial
para o comunitário; do princípio único do pároco para uma comunidade
toda ministerial; e da dimensão cultual para a totalidade
das dimensões da comunhão e da missão da Igreja no mundo.
4. A Renovação
paroquial na América Latina e no Caribe:
Na América Latina, desde Medellín, passando por Puebla e Santo Domingo, o
magistério confirmou a tradição paroquial, recomendando a sua renovação: A
paróquia não é território, nem estrutura, nem edifício, mas é a família de
Deus... que acolhe as angústias e esperanças, anima e orienta a comunhão, a
participação e a missão, como Igreja inserida na sociedade e solidária com suas
aspirações e dificuldades. Ela deve evangelizar, celebrar, fomentar a promoção
humana e fazer progredir a inculturação da fé, e ser uma rede de comunidades.
Aparecida destaca a multiplicação das comunidades e intensificação da pastoral
urbana, e ressalta a contribuição das CEBs. Afirma que não há comunidade com
multidões anônimas na Paróquia, daí a necessidade dela se tornar comunidade de
comunidades, lugar privilegiado onde a maioria dos fiéis tem uma experiência
concreta de Cristo e da comunhão eclesial. As comunidades paroquiais são casas
e escolas de comunhão e devem ser um todo orgânico que envolve os diversos
aspectos da vida, pois como vimos nas DGAE, as paróquias têm um importante
papel na vivência da fé para a maioria dos fiéis (Fichas: 46, 47, 48, 49, 50,
51).
5. A Paróquia
como Casa: Para propor a reflexão sobre a renovação
da paróquia, como comunidade de comunidades, o Estudo 104 resgata a imagem da
‘Igreja como Casa’, onde as pessoas se encontram em comunidade, num ambiente de
vida e aconchego que garante o referencial para o cristão encontrar-se no lar e
prosseguir na estrada de Jesus, e com Ele se deter na casa dos amigos. Hoje há
uma situação de desamparo, falta de pertença e deserto espiritual, que reclama
uma casa de acolhida. Por isso, a necessidade da Paróquia ser essa casa, onde
se
ouve a convocação para que todos sejam um e vivam como
irmãos na família de Deus. Esse é um desafio da Igreja, de recuperar esta
fraternidade das casas, pois relações que não formam vínculos, não criam sentimento de pertença.
A Paróquia, como Casa da Palavra e do discípulo que a
acolhe e pratica, é a Igreja que se define pelo acolhimento do Verbo que
colocou a sua tenda entre os homens. Porém, a Palavra não deve estar presente
apenas na Celebração Eucarística, mas em todo o agir eclesial, principalmente,
como fonte de conhecimento da História da Salvação que precisa ser ensinada a
todo povo de Deus. Portanto, é na Casa da Palavra que o estudo, a formação e a
oração devem ocupar também lugar de destaque.
A Igreja, como Casa do Pão, atrai os que têm fome, e é o
lugar onde os cristãos se nutrem com a Eucaristia, estabelecem as novas
relações que o Evangelho propõe. É fonte da vocação e do seu impulso
missionário que leva a Paróquia a concretizar o seu compromisso social pela
caridade.
Deus fez a sua morada entre os homens; nasceu em Belém, a
“casa do pão”; peregrinou pela Galileia e Judeia; providenciou a Palavra e o
Alimento para os cansados e abatidos. Assim, também, deve ser a Igreja, onde a
comunidade vive da Eucaristia que a une pelo Espírito Santo, em Cristo, para
chegar ao Pai.
A Igreja, como Casa da caridade (ágape), é onde na Palavra
e na Eucaristia, o cristão vive o amor como ágape na relação com Deus. A
amizade é o paradigma de todo relacionamento de Jesus com os discípulos, e de
Deus com a humanidade. Diante do pecado, Deus não se torna inimigo, mas se
revela como o Deus-Conosco, o Emanuel, que, em Jesus Cristo, se faz amigo e
irmão. A Igreja é a comunidade santa porque nela se vive o amor. Deus oferece
aos homens, a filiação adotiva em Cristo, chamando-os à santidade, que é a vida
de união com Ele, com os irmãos e as irmãs, e a criação. A amizade se refere ao
amor e torna-se expressão do ágape, o centro do amor cristão. Quando Deus
convoca a humanidade para derrubar as barreiras que impedem a fraternidade,
esta amizade, amor ágape, é traduzida em compaixão pelos que sofrem.
6. A Paróquia
Hoje: A Paróquia é importante para a
construção da identidade cristã, e é o lugar onde o cristianismo se torna
visível na cultura e na história. Ela está desafiada a se renovar diante das
aceleradas mudanças, inserindo a revisão da ação pastoral de modo geral, em
vista da urgência de uma nova evangelização.
É preciso compreender duas noções de Paróquia: como casa
de acolhida e como comunidade que é lar dos cristãos onde se faz a experiência
de seguir Jesus. Como acolhimento, ela é o espaço para receber pessoas com suas
buscas e vivências, que pretendem seguir o caminho. E enquanto espaço da
comunidade, ela reúne esses cristãos em grupos comprometidos a viverem o
evangelho em comunidade, a partir da fé, em profunda comunhão com Deus e entre
si, numa verdadeira comunhão eclesial que encontra a sua expressão mais
imediata e visível na Paróquia. Embora, por vezes, pobre em pessoas e em meios,
e outras vezes dispersa em territórios vastíssimos ou quase desaparecida no
meio de bairros modernos, populosos e caóticos, a Paróquia é, sobretudo, a família
de Deus, o próprio mistério da Igreja presente e operante nela.
Teologicamente, o fundamento da Paróquia é ser uma
comunidade eucarística que celebra a presença de Cristo, Palavra e Eucaristia,
estabelecendo os vínculos de comunhão entre os seus fiéis, e remete todos à
missão de testemunhar na caridade a verdade professada. Assim, a nova Paróquia,
descrita no Estudo 104 da CNBB, é aquela que se abre aos desafios do século XXI
assumindo, como modelo, a ação de Jesus Cristo: proclamar o ano da graça do
Senhor (Lc 4,18-19).
Para Refletir:
1. Na vivência comunitária atual, vivemos realmente a
proposta cristã original? Qual é a sua realidade?
2. Como a proposta de pequenas comunidades, com ativa
participação ministerial dos cristãos leigos pode ser uma boa perspectiva de
renovação paroquial?
3.
De que modo nós, cristãos do terceiro
milênio, podemos, a partir da comunidade de comunidades, fazer florescer, de
fato, a tão sonhada comunhão?
3.
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