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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

50 anos da Sacrosanctum Concílium - Ficha de Estudo I

Introdução
A Constituição “Sacrossanto Concilio” (SC), sobre a Sagrada Liturgia, foi o primeiro documento aprovado pela maioria dos bispos conciliares em 4 de dezembro de 1963[1].
Ela se insere no espírito de renovação suscitado pelo Espírito Santo e, especialmente, na compreensão da Igreja como Povo de Deus, definida na Constituição Dogmática Lumen Gentium. O objetivo central da SC é reformar e incrementar a Liturgia para promover a participação e a santificação do povo em vista da edificação do Corpo de Cristo. (1-4) 
Desde o início do século XX, uma reforma litúrgica vinha sendo gerada na Igreja, especialmente na Bélgica e na França ficou conhecida como Movimento Litúrgico. Ele cresceu a partir dos estudos bíblicos e patrísticas que possibilitaram aos teólogos refletirem sobre o caráter criptológico da Liturgia e sobre a necessidade da participação dos fiéis nas celebrações. O papa Pio XII, através da Encíclica Mediator Dei (20-11-1947), confirmou os passos dados pelo Movimento Litúrgico e, neste mesmo ano, criou uma comissão para reformar a Liturgia. Em 1951 foi introduzida uma série de reformas que antecederam o Concílio, sendo que a principal delas, foi a Reforma da Vigília Pascal. O Concílio, então, propagou estas reformas e sugeriu que elas fossem implantadas em todas as dioceses. Os Documentos sobre a Liturgia, que ajudam as equipes espalhadas por todo o Brasil, e os livros litúrgicos como o Missal, Rituais para os Sacramentos, Livro de Bênçãos e Lecionários na língua português-brasileira, são frutos da SC. 
A SC foi dividida em sete capítulos:
ü  I - Os princípios Gerais da Reforma e do Incremento da Liturgia;
ü  II - O Sacrossanto Mistério da Eucaristia;
ü  III - Os demais Sacramentos e sacramentais;
ü  IV - O Ofício Divino;
ü  V - O Ano Litúrgico;
ü  VI - A Música Sacra;
ü  VII - A Arte Sacra e as Sagradas Alfaias.

Neste estudo, eles serão tratados em cinco Fichas assim nomeadas:
1) A Sagrada Liturgia;
2) Formação Litúrgica;
3) Sacramentos e Sacramentais;
4) Ofício Divino e Ano Litúrgico ;
5) Música e Artes Sacras.


A Sagrada Liturgia -            (1ª da  SC)
Este texto sobre A Sagrada Liturgia é fruto do estudo sobre os tópicos I, III e IV do primeiro capítulo da SC:
Os princípios gerais da Reforma e do Incremento[2] da Liturgia.
O tópico I - A natureza da Sagrada Liturgia e sua importância na vida da Igreja (parágrafos 5-13), indica que é através da celebração cotidiana dos Sagrados Mistérios da Vida, Morte e Ressurreição do Senhor que a Igreja atualiza a presença salvífica de Jesus Cristo e se revela, apesar de suas falhas, como um canal da Graça Santificadora aos que a procuram, ou seja, o favor de Deus que santifica o homem, a Sua presença na vida humana (5-6). Através da Liturgia, é o próprio Cristo que age e comunica os sinais sensíveis de Sua Graça. E é, mediante a proclamação da Palavra de Deus e do diálogo com a assembleia, através da participação na salmodia, nas orações, nos cantos e por meio dos sacramentos, que os fiéis se unem a Cristo e antecipam a festa, que no céu nunca se acaba (7-8). Além disso, através da Liturgia se enfatiza a noção eclesiológica, ou seja, o vínculo com a Igreja, pois o Povo de Deus reunido em assembleia litúrgica é a própria Igreja, Corpo de Cristo! Eis porque se afirma que a Liturgia é o cume e a fonte de toda a ação pastoral.
O tópico III - Reforma da Sagrada Liturgia (parágrafos 21-40), indica a necessidade de promover mudanças nas celebrações litúrgicas em função de uma preocupação pastoral e espiritual, pois deseja-se que os fiéis obtenham maiores benefícios das celebrações que participam. O documento lembra que em todas as Celebrações Litúrgicas há partes fixas e partes que podem ser mudadas ou adaptadas, a fim de que os fiéis sejam beneficiados e aproveitem melhor o que se celebra. Além disso, algumas orientações foram elencadas para serem seguidas por todas as dioceses, a fim de garantir a unidade e a fidelidade ao Magistério Eclesial. Duas delas estão destacadas abaixo por serem consideradas como mais importantes e que contribuíram na catequese bíblico-litúrgica do povo: 
1) Que a Bíblia tenha um lugar de destaque na Liturgia, e que a pregação (homilia) seja catequética e centrada no mistério de Cristo. Para tanto, o documento permitiu o uso da língua pátria com o objetivo de facilitar a compreensão e participação nas Liturgias Dominical e Cotidiana, e incentivou a realização da Celebração da Palavra, sobretudo nas comunidades onde há carência de padres. (35,4)
2) Que o povo seja estimulado a participar ativamente da Liturgia através de sua voz e expressão corporal, bem como a guardar silêncio nos momentos em que ele seja necessário.
O tópico IV - O incremento da vida Litúrgica (parágrafos 41- 42), indica que as Dioceses devem promover a Pastoral Litúrgica nas paróquias e comunidades para que os Sagrados Mistérios sejam celebrados em uma participação perfeita e ativa de todo o Povo santo de Deus, representando a Igreja visível, estabelecida em todo o mundo, especialmente aos domingos, no Dia do Senhor. O documento, ainda, aprovou a introdução de alguns elementos culturais nas Liturgias, a fim de torná-las mais expressivas aos diversos grupos que a celebram.

Na época do Concílio, a realidade eclesial brasileira ainda era muito marcada pelas práticas religiosas tradicionais sedimentadas nos primeiros quatro séculos coloniais. A partir do século XX, os bispos muito se esforçaram para modificar a realidade devocional ligada à religiosidade popular que desfocava da fé cristológica. As reformas propostas pela SC vieram em boa hora, pois contribuíram para resgatar o senso de uma liturgia centrada na fé em Jesus Cristo, o Senhor da História. A centralidade bíblica e a liturgia catequética se configuraram como o grande desafio à formação dos fiéis. 
Na perspectiva da Pastoral Litúrgica, houve um grande esforço para que a reforma proposta fosse levada adiante. Ainda em 1963, através do Plano de Pastoral de Conjunto, a CNBB criou a Linha 4: Dimensão Litúrgica, que deu os primeiros passos para a organização de uma Pastoral da Liturgia no Brasil, e algum tempo depois, foi criada a Comissão Nacional de Liturgia. Em 1969, foi divulgada a publicação das Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário Romano (NUALC) elaboradas pela Santa Sé e, vinte anos depois, em 1989, foi publicado pela CNBB o Documento 43, denominado Animação da Vida Litúrgica no Brasil, que procurou divulgar a SC e introduzir as modificações sugeridas pela NUALC. Atualmente, o organismo da CNBB responsável pela Liturgia chama-se Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia. 
É certo que a Reforma Litúrgica fez um grande bem à Igreja e, especialmente à Igreja do Brasil, pois reconduziu à centralidade cristólogica e contribuiu para uma maior participação dos fiéis, inclusive na questão da inculturação[3]
. Como no Brasil sempre houve poucos padres, o incentivo às Celebrações da Palavra fortaleceu uma eclesiologia de comunhão e de serviços, especialmente nas Comunidades Eclesiaisde Base (CEB’s), através dos Ministros da Palavra, da Eucaristia, dos Enfermos, e das Exéquias (cerimônias fúnebres) com especial destaque à participação das mulheres. De outro lado, a inculturação tornou a Liturgia mais popular, especialmente na música com a diversidade dos instrumentos, e nos cantos.
Para refletir:                                                                                             Tema: A Sagrada Litúrgica
1. O que lhe chama mais a atenção sobre a Natureza da Liturgia?
2. Por que a Liturgia é importante na vida da Igreja?
3. Das reformas sugeridas pela SC, qual você acha que mais contribuiu para fazer crescer a Igreja Católica no Brasil, ou o que é mais ativo e perceptível na sua Paróquia?
4. Existe alguma alteração na vida da Igreja, conhecida através desta Ficha 1, que a sua Paróquia ainda não aplicou na sua totalidade? Se sim, de que forma você pode colaborar para que isto aconteça?



[1] Libanio, João Batista, Igreja Contemporânea – Encontros com a Modernidade, Ed. Loyola, São Paulo, 2000, pp 50-54

[2] Ato, processo ou efeito de incrementar; desenvolvimento, crescimento, aumento; acréscimo.  
[3] A inculturação é a introdução de uma cultura ou aspectos culturais de um determinado povo à uma outra cultura. A palavra "inculturação" tornou-se importante na Igreja para expressar a presença renovada da Igreja missionária: o Evangelho é anunciado para se tornar um princípio que anima, guia e unifica as culturas, transformando-as e renovando-as a partir de seu interior até produzir uma nova criação

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