Introdução
A
Constituição “Sacrossanto Concilio” (SC), sobre a Sagrada Liturgia, foi o
primeiro documento aprovado pela maioria dos bispos conciliares em 4 de
dezembro de 1963[1].
Ela se
insere no espírito de renovação suscitado pelo Espírito Santo e, especialmente,
na compreensão da Igreja como Povo de Deus, definida na Constituição Dogmática
Lumen Gentium. O objetivo central da SC é reformar e incrementar a Liturgia
para promover a participação e a santificação do povo em vista da edificação do
Corpo de Cristo. (1-4)
Desde
o início do século XX, uma reforma litúrgica vinha sendo gerada na Igreja,
especialmente na Bélgica e na França ficou conhecida como Movimento Litúrgico.
Ele cresceu a partir dos estudos bíblicos e patrísticas que possibilitaram aos
teólogos refletirem sobre o caráter criptológico da Liturgia e sobre a
necessidade da participação dos fiéis nas celebrações. O papa Pio XII, através
da Encíclica Mediator Dei (20-11-1947), confirmou os passos dados pelo
Movimento Litúrgico e, neste mesmo ano, criou uma comissão para reformar a
Liturgia. Em 1951 foi introduzida uma série de reformas que antecederam o
Concílio, sendo que a principal delas, foi a Reforma da Vigília Pascal. O
Concílio, então, propagou estas reformas e sugeriu que elas fossem implantadas
em todas as dioceses. Os Documentos sobre a Liturgia, que ajudam as equipes
espalhadas por todo o Brasil, e os livros litúrgicos como o Missal, Rituais
para os Sacramentos, Livro de Bênçãos e Lecionários na língua
português-brasileira, são frutos da SC.
A SC
foi dividida em sete capítulos:
ü
I - Os princípios Gerais da Reforma e
do Incremento da Liturgia;
ü
II - O Sacrossanto Mistério da
Eucaristia;
ü
III - Os demais Sacramentos e
sacramentais;
ü
IV - O Ofício Divino;
ü
V - O Ano Litúrgico;
ü
VI - A Música Sacra;
ü
VII - A Arte Sacra e as Sagradas
Alfaias.
Neste
estudo, eles serão tratados em cinco Fichas assim nomeadas:
1) A
Sagrada Liturgia;
2)
Formação Litúrgica;
3)
Sacramentos e Sacramentais;
4)
Ofício Divino e Ano Litúrgico ;
5)
Música e Artes Sacras.
A Sagrada Liturgia - (1ª da
SC)
Os
princípios gerais da Reforma e do Incremento[2] da Liturgia.
O tópico I - A natureza da
Sagrada Liturgia e sua importância na vida da Igreja (parágrafos 5-13), indica
que é através da celebração cotidiana dos Sagrados Mistérios da Vida, Morte e
Ressurreição do Senhor que a Igreja atualiza a presença salvífica de Jesus
Cristo e se revela, apesar de suas falhas, como um canal da Graça Santificadora
aos que a procuram, ou seja, o favor de Deus que santifica o homem, a Sua
presença na vida humana (5-6). Através da Liturgia, é o próprio Cristo que age
e comunica os sinais sensíveis de Sua Graça. E é, mediante a proclamação da
Palavra de Deus e do diálogo com a assembleia, através da participação na
salmodia, nas orações, nos cantos e por meio dos sacramentos, que os fiéis se
unem a Cristo e antecipam a festa, que no céu nunca se acaba (7-8). Além disso,
através da Liturgia se enfatiza a noção eclesiológica, ou seja, o vínculo com a
Igreja, pois o Povo de Deus reunido em assembleia litúrgica é a própria Igreja,
Corpo de Cristo! Eis porque se afirma que a Liturgia é o cume e a fonte de toda
a ação pastoral.
O tópico III - Reforma da Sagrada
Liturgia (parágrafos 21-40), indica a necessidade de promover mudanças nas celebrações
litúrgicas em função de uma preocupação pastoral e espiritual, pois deseja-se
que os fiéis obtenham maiores benefícios das celebrações que participam. O
documento lembra que em todas as Celebrações Litúrgicas há partes fixas e
partes que podem ser mudadas ou adaptadas, a fim de que os fiéis sejam
beneficiados e aproveitem melhor o que se celebra. Além disso, algumas
orientações foram elencadas para serem seguidas por todas as dioceses, a fim de
garantir a unidade e a fidelidade ao Magistério Eclesial. Duas delas estão
destacadas abaixo por serem consideradas como mais importantes e que
contribuíram na catequese bíblico-litúrgica do povo:
1) Que a Bíblia tenha
um lugar de destaque na Liturgia, e que a pregação (homilia) seja catequética e
centrada no mistério de Cristo. Para tanto, o documento permitiu o uso da
língua pátria com o objetivo de facilitar a compreensão e participação nas
Liturgias Dominical e Cotidiana, e incentivou a realização da Celebração da
Palavra, sobretudo nas comunidades onde há carência de padres. (35,4)
2) Que o povo seja
estimulado a participar ativamente da Liturgia através de sua voz e expressão
corporal, bem como a guardar silêncio nos momentos em que ele seja necessário.
O tópico IV - O incremento da vida
Litúrgica (parágrafos 41- 42), indica que as Dioceses devem promover a Pastoral
Litúrgica nas paróquias e comunidades para que os Sagrados Mistérios sejam
celebrados em uma participação perfeita e ativa de todo o Povo santo de Deus, representando
a Igreja visível, estabelecida em todo o mundo, especialmente aos domingos, no
Dia do Senhor. O documento, ainda, aprovou a introdução de alguns elementos
culturais nas Liturgias, a fim de torná-las mais expressivas aos diversos
grupos que a celebram.
Na
época do Concílio, a realidade eclesial brasileira ainda era muito marcada
pelas práticas religiosas tradicionais sedimentadas nos primeiros quatro
séculos coloniais. A partir do século XX, os bispos muito se esforçaram para
modificar a realidade devocional ligada à religiosidade popular que desfocava
da fé cristológica. As reformas propostas pela SC vieram em boa hora, pois
contribuíram para resgatar o senso de uma liturgia centrada na fé em Jesus
Cristo, o Senhor da História. A centralidade bíblica e a liturgia catequética
se configuraram como o grande desafio à formação
dos fiéis.
Na
perspectiva da Pastoral Litúrgica, houve um grande esforço para que a reforma
proposta fosse levada adiante. Ainda em 1963, através do Plano de Pastoral de Conjunto,
a CNBB criou a Linha 4: Dimensão Litúrgica, que deu os primeiros passos para a
organização de uma Pastoral da Liturgia no Brasil, e algum tempo depois, foi
criada a Comissão Nacional de Liturgia. Em 1969, foi divulgada a publicação das
Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário Romano (NUALC)
elaboradas pela Santa Sé e, vinte anos depois, em 1989, foi publicado pela CNBB
o Documento 43, denominado Animação da Vida Litúrgica no Brasil, que procurou
divulgar a SC e introduzir as modificações sugeridas pela NUALC. Atualmente, o
organismo da CNBB responsável pela Liturgia chama-se Comissão Episcopal
Pastoral para a Liturgia.
É certo que a Reforma Litúrgica fez um grande bem à
Igreja e, especialmente à Igreja do Brasil, pois reconduziu à centralidade
cristólogica e contribuiu para uma maior participação dos fiéis, inclusive na
questão da inculturação[3]
. Como no Brasil sempre houve poucos padres, o incentivo
às Celebrações da Palavra fortaleceu uma eclesiologia de comunhão e de
serviços, especialmente nas Comunidades Eclesiaisde Base (CEB’s), através dos
Ministros da Palavra, da Eucaristia, dos Enfermos, e das Exéquias (cerimônias
fúnebres) com especial destaque à participação das mulheres. De outro lado, a
inculturação tornou a Liturgia mais popular, especialmente na música com a
diversidade dos instrumentos, e nos cantos.
Para refletir: Tema: A Sagrada
Litúrgica
1. O que lhe chama
mais a atenção sobre a Natureza da Liturgia?
2. Por que a Liturgia
é importante na vida da Igreja?
3. Das reformas
sugeridas pela SC, qual você acha que mais contribuiu para fazer crescer a
Igreja Católica no Brasil, ou o que é mais ativo e perceptível na sua Paróquia?
4. Existe alguma
alteração na vida da Igreja, conhecida através desta Ficha 1, que a sua
Paróquia ainda não aplicou na sua totalidade? Se sim, de que forma você pode
colaborar para que isto aconteça?
[1]
Libanio, João
Batista, Igreja Contemporânea – Encontros com a Modernidade, Ed. Loyola, São
Paulo, 2000, pp 50-54
[3]
A inculturação é a introdução de uma cultura ou aspectos
culturais de um determinado povo à uma outra cultura. A palavra
"inculturação" tornou-se importante na Igreja para expressar a
presença renovada da Igreja missionária: o Evangelho é anunciado para se tornar
um princípio que anima, guia e unifica as culturas, transformando-as e
renovando-as a partir de seu interior até produzir uma nova criação
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