A
ABSOLVIÇÃO[1]
Frei José Ariovaldo
da Silva, OFM
A
absolvição é
uma ação do sacerdote, ação simbólico-sacramental, pela qual, em virtude do
mistério pascal e pela ação do Espírito Santo, na mediação eclesial, o penitente
é reconciliado com Deus e com a Igreja. A oração que o ministro pronuncia é de
uma densidade bíblica e teológica incalculável. É só prestar bem atenção na
fórmula:
“Deus, Pai de misericórdia,
que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e
enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério
da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai,
e do Filho e do Espírito Santo”.
Primeiro cita-se o nome de
Deus. Neste nome podemos vê-lo como o Criador. E, como Criador, ele se revelou
como Pai (nosso familiar, portanto). Por isso, o chamamos de Pai. Como familiar
nosso (nosso Pai), é caracterizado por um atributo peculiar: misericordioso
(Pai de misericórdia, que desce e ouve o clamor da humanidade).
Mas vamos adiante. A humanidade
em geral e o pecador que está recebendo o perdão, concretamente, se afastaram
do Senhor por sua desobediência e orgulho. Mas Deus, por assim dizer, fica
chateado com esta atitude orgulhosa, desobediente e rebelde do ser humano.
Assim, “neste transfundo aparece Cristo, que ‘se despojou e se rebaixou até a
morte’ (cf. Fl 2,7-8); com sua atitude humilde e obediente, Cristo muda o rosto
da humanidade; agora, pela obediência de Cristo, a humanidade é santa e agradável
a Deus. O corpo santo de Jesus, destruído na cruz, vem a ser, então, como que a
imagem – o ‘símbolo’ ou o ‘sacramento’ – de como foi destruído o pecado dos
seres humanos: ‘Carregou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que,
mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça’ (1Pd 2,24). Por isso que a
fórmula litúrgica diz: ‘Deus reconciliou o mundo pela morte do seu Filho’.
Aquele que não tinha nada a ver com o pecado, diz Paulo, ‘Deus o fez pecado por
nós, para que nele fôssemos justiça de Deus’ (2Cor 5,21)”. Mas não só a morte
do Senhor!... Também se fala da sua ressurreição. Como afirma Paulo: ele foi
“entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4,25).
“Por isso vale a pena insistir que também a ressurreição, aludida na fórmula, é
‘sacramento’ ou símbolo do perdão. Com efeito, se o corpo do Senhor destruído
na cruz simboliza o pecado humano destruído, este mesmo corpo glorificado e
colocado à direita do Pai – um homem verdadeiro como nós, sentado junto de Deus
– simboliza intensamente a reconciliação da humanidade com Deus e é o início da
humanidade reconciliada e amiga de Deus: ‘Na pessoa de Cristo Deus nos fez
sentar com ele no céu’ (Ef 2,6)”. Como se vê, a Igreja, diante dos sinais de
conversão do penitente, “faz o memorial das grandes ações do mistério pascal do
Senhor que, em nome da humanidade..., passa deste mundo de pecado ao reino da
luz do Pai. E este memorial, tornado presente nas palavras e gestos do
ministro, faz com que o Amor de Deus – o Espírito Santo – que ressuscitou
Cristo dentre os mortos (Rm 8,10), seja derramado de novo também sobre o
pecador. É o que expressa a bonita fórmula de absolvição” [2],
através da qual o pecador acolhe o perdão e a paz que lhe vêm do mistério
pascal, sendo libertado da escravidão do pecado para estar livre para Deus.
A oração da fórmula é
acompanhada pelo importantíssimo gesto da imposição das mãos, ou pelo menos da
mão direita, símbolo da transmissão do Espírito Santo para o perdão dos
pecados.
Enfim, a fórmula conclui
celebrando o fato de que toda a reconciliação é obra da própria Trindade agindo
mediante pessoa do ministro representante da Igreja: “E eu te absolvo em
nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Vamos retomar a fórmula da
absolvição e comentar o seu conteúdo.
2. Qual a imagem de Deus que aí
transparece? O que a reconciliação faz
acontecer em nossa vida?
3. Qual a importância do gesto
da imposição das mãos?
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