COMUNIDADE DE COMUNIDADES:
UMA NOVA PARÓQUIA (IV)
Perspectivas
Pastorais
1- Recuperar as bases da
comunidade cristã. Conforme o exemplo das primeiras
comunidades cristãs, a comunidade paroquial se reúne para partir o pão da
Palavra e da Eucaristia e perseverar na catequese, na vida sacramental e na
prática da caridade (cf. DAp 175). Essa proposta de ser Igreja ganha
especial apelo em nossa atual sociedade, na qual viver perto não significa,
necessariamente, proximidade, além de gerar o individualismo que leva, cada vez
mais, ao distanciamento, à solidão e à infelicidade. Assim, três elementos
fundamentais caracterizam a comunidade seguidora de Jesus Cristo:
a) A vivência da Palavra, como oportunidade de encontro com Cristo, especialmente para os
mais jovens, que necessitam do testemunho dos mais velhos e de uma catequese sistemática,
através de práticas como, por exemplo, o catecumenato (Iniciação à vida cristã)
e a Leitura Orante da Bíblia.
b) A vivência da Eucaristia, o ponto alto da Celebração Pascal. A partilha eucarística é escola de
vida Cristã, pois a doação máxima de Jesus é o grande chamado para também
partilharmos tudo o que temos e somos.
c) A vivência na caridade, testemunho do amor ao próximo. A defesa da vida exige da comunidade a
prioridade aos famintos, doentes, presos e tantos outros que estão à margem do
sistema. Assim, a caridade só pode ser realizada plenamente com participação
política e o reconhecimento de que a vida econômico-social deve estar a serviço
da pessoa humana.
2- A comunidade de
comunidades. O incentivo e a formação de comunidades menores faz parte
do processo de renovação paroquial e, para isso, são apresentadas algumas
sugestões como:
a) A setorização da Paróquia em grupos menores, de modo que favoreça uma nova forma de
partilhar à vida cristã. Sem ignorar a referência territorial das comunidades
maiores e as matrizes, podem ser criadas novas unidades com uma estrutura
pastoral menor. Contudo, não basta uma demarcação de territórios, é preciso
identificar quem vai pastorear, animar e coordenar esses setores. Sem essa
preparação, a simples setorização não renova a vida paroquial! Nessa instância,
podem ser desenvolvidos muitos serviços, levando em conta o protagonismo dos
leigos e os ministérios a eles confiados como determinantes para o bom êxito da
setorização.
b) A integração de comunidades,
movimentos e grupos que apresentam várias formas de
se viver o cristianismo, diferentemente das comunidades territorialmente estabelecidas.
Eles vivem experiências cristãs que se unem em pontos comuns e, integradas à
paróquia, constituem uma rede de comunidades, além das comunidades cristãs
ambientais ou transterritoriais, formadas, por exemplo, por grupos de moradores
de rua, de universitários, de estudantes (em especial nos colégios católicos),
de empresários ou de artistas. Contudo, a unidade paroquial das diversas
comunidades é indispensável para que todos se sintam unidos afetiva e
efetivamente. Isso se realiza não só pelo vínculo e pela partilha da
caminhada, mas também pelo planejamento pastoral, pela ação do conselho
paroquial e do pároco.
c) A revitalização da comunidade não apenas como uma mera reorganização em unidades menores, mas
como uma verdadeira conversão pastoral de todos. Assim, a paróquia poderá
reunir e ser referência para os cristãos, sem esgotar toda a vida da
comunidade; evitar a centralização e a uniformização; e promover relações
interpessoais que vençam o anonimato e a solidão. A revitalização exige, também,
que as pessoas tenham a alegria de se reunir em torno da Palavra de Deus;
implica a capacidade de unir fé e vida, de viver e de celebrar, de se alegrar e
de chorar com o outro, na atenção às pessoas e às suas necessidades.
3- A conversão pastoral.
Não é possível ser tocado por Jesus Cristo sem a conversão, e as comunidades
cristãs precisam ser sinal de conversão no mundo por meio do exemplo de seus
agentes, da inclusão social, da igualdade, da partilha, do serviço e da prática
do perdão.
a) Conversão dos ministros da
comunidade. Preocupar-se com a pessoa humana
é uma ação inerente à figura do Bom Pastor anunciada por Cristo. Assim, os
ministros ordenados devem ser os primeiros a buscar a constante conversão, e
cuidar para não se afastar de seus compromissos de atendimento, estudos e
orações quando sobrecarregados com as diversas atividades, em especial as
administrativas. Estas podem ser confiadas também aos leigos, religiosos
e religiosas, dentro dos respectivos Conselhos Paroquiais que podem ser mais
acolhidos dentro das atividades pastorais, demonstrando uma forma de
descentralização almejada pelo modelo de comunidade de comunidades.
b) Protagonismo dos cristãos leigos. Tão defendido pelo Concílio Vaticano II e pelas inúmeras
Conferências Episcopais na América Latina, o protagonismo dos leigos
encontrará, nessa nova forma de organização, real espaço para se desenvolver.
Através dele, a comunidade estará mais ligada aos verdadeiros problemas da
sociedade, uma vez que eles fazem parte mais do cotidiano dos leigos do que dos
presbíteros.
4- Transformar as estruturas. Cuidar
demais das estruturas levou-nos a muitas formas de ativismo improdutivo, e a
primazia do fazer ofuscou o ser cristão. É fundamental a transformação das
estruturas para que os recursos da paróquia sejam aplicados de acordo com os
objetivos pastorais, não permitindo a dissonância entre o Conselho Paroquial de
Pastoral e o de Assuntos Econômicos. É urgente investir na formação das
pessoas, superando a mentalidade que prioriza construções e obras materiais.
Além disso, os leigos precisam de apoio em suas comunidades para a realização
de formações e encontros, para manter a unidade com a Diocese e para aprofundar
o conhecimento de seu serviço e de pastoral. Também se faz importante e necessário
desenvolver fundos de solidariedade entre as paróquias e as comunidades da
Diocese, pois as paróquias mais antigas e estáveis economicamente têm o dever
missionário de partilhar seus recursos, para que outras comunidades possam
crescer e se estabelecer. Seja nos recursos materiais ou nos humanos, a
partilha entre as comunidades é fundamental, de forma que nelas não existam
necessitados (At 2,45).
5- A transmissão da fé: novas
linguagens. Atualmente, se multiplicam os canais de comunicação, mas ao mesmo
tempo, se fragmentam os conteúdos. Diante das novas possibilidades de
comunicação e dos novos tipos de relacionamentos que a mídia possibilita, a
comunidade também interage de forma diferenciada com seus fiéis. Na
evangelização e na pastoral persistem linguagens pouco significativas para a
cultura atual, especialmente para os jovens, e a renovação paroquial não pode
descuidar da mutação dos códigos de comunicação existentes em nossa sociedade
com amplo pluralismo social e cultural. Também é importante promover uma
comunicação mais direta e objetiva, principalmente, nas homilias alicerçadas na
Palavra de Deus e na vida. Isso implica cuidar do conteúdo e das técnicas de
comunicação.
6- Proposições. Para
concluir e sintetizar esse estudo, são apresentados oito elementos que devem
servir de base para a renovação paroquial. São eles: Criatividade: frente
à complexidade e pluralidade do mundo atual, o cristão necessita de muita
criatividade para levar a palavra de Jesus nos mais diversos contextos,
adaptando-se às diferentes situações. Pequenas comunidades: favorecem
a reunião de grupos que se reúnem para viver a sua fé, alimentar sua
espiritualidade e crescer na convivência. Ministério dos leigos: os
inúmeros ministérios leigos, em especial para o anúncio da palavra, colaboram
para a descentralização da paróquia. Formação: uma Igreja que se apoia cada vez
mais nos leigos precisa assumir o compromisso de capacitá-los para o desafio,
priorizando recursos para esse fim. Catequese de iniciação à vida
cristã: Retomar a forte presença da Igreja na sociedade significa
buscar os não batizados oferecendo-lhes um processo catecumenal consistente e
querigmático, que deverá estar acessível também para batizados que não
continuaram sua formação cristã, com a preparação para a primeira comunhão e
crisma. Jovens: a juventude é sempre termômetro para a ação
pastoral, por isso, é preciso que a paróquia descubra meios de dialogar com os
seus jovens para, consequentemente, dialogar com a sociedade. Liturgia: a
universalização e inculturação devem ser percebidas principalmente na liturgia.
Não é mais aceitável existir celebrações que não se valham dos elementos da
cultura local e apresentem homilias genéricas e impessoais. Caridade: as
paróquias devem cuidar para acolher fraternalmente a todos, especialmente
aqueles que estão caídos à beira do caminho: dependentes químicos, migrantes,
desempregados, dementes, moradores de rua, sem-terra, doentes e idosos
abandonados. Perdão e acolhida: acolher melhor é uma tarefa
urgente de todas as comunidades paroquiais, especialmente nas secretarias,
superando a burocracia, a frieza, a impessoalidade e estabelecendo relações
mais personalizadas. É importante cuidar da pastoral da acolhida, da escuta e
do aconselhamento, além da importância em atrair aqueles que se afastaram da
comunidade ou os que a concebem apenas como uma referência para serviços
religiosos.
Levando em conta as considerações
finais do Estudo 104, a paróquia, que sempre foi uma referência para o povo em
tempo de incertezas e inseguranças, continua sendo um espaço fundamental para
as pessoas vivenciarem o encontro com o Cristo. A renovação exige uma Igreja
ministerial, uma estrutura pastoral que integre em redes todas as comunidades,
as associações, os hospitais, as escolas, as universidades, na pluralidade e
diversidade de dons. Dois desafios se impõem: acolher as múltiplas formas de
vida cristã e manter unidos os diferentes grupos na bela expressão comunidade
de comunidades. Na fé, os cristãos devem olhar os desafios como tempo oportuno
para a nova Evangelização, com a certeza que a Virgem Maria, a Mãe da Igreja,
permanece unida àqueles que se esforçam para responder ao chamado de ir e
Evangelizar a todos os povos! Que a comunidade/paróquia possa ser um poço de
onde jorra a Água Viva, que é Cristo Jesus.
Para Refletir:
1- Em sua opinião, qual seria a
forma de organização, em pequenas comunidades, mais atrativa para a sua
paróquia: territorial, por tipo de ministério ou por outro tipo de relação? Por
quê?
2- De que forma você sente que o modelo
de comunidade de comunidades pode ser bem aceito em sua paróquia?
3- A partir do que foi exposto, indique
três mudanças que você considera essenciais para a renovação das paróquias.